Portugal atravessa uma crise económica e, consequentemente, uma crise social grave e muito séria. O problema não é só de agora, é de há muitos anos, mas sente-se mais quando levamos por tabela os efeitos das crises que outros países passam, fruto de uma economia demasiado exposta ao exterior – culpa nossa. Culpa nossa também porque o dinheiro de todos nós é esbanjado, mal gasto e mal gerido pelos políticos que nós escolhemos para nos (des)governar.
Exemplo disto mesmo é a péssima utilização, diria mesmo “criminosa”, dos dinheiros públicos – Estado (Central) e Estado (Autarquias). O Estado Central, o Governo, insiste em avançar com projectos como o Comboio de Alta Velocidade, o qual implica construir uma Nova Ponte para atravessar o Rio Tejo (que vai trazer muitos mais carros para Lisboa, contrariando tudo o que são políticas ambientais e energéticas daquilo que são as orientações do resto da Europa e do que se faz um pouco por todo o mundo); um novo aeroporto (que com a crise internacional e a escalada do preço do petróleo deixou de fazer sentido) e ainda diversos troços de auto-estradas que não servem a ninguém. Isto tudo em detrimento da construção de hospitais, centros de saúde, escolas, equipamentos sociais diversos, que tanta falta nos fazem. Estes projectos em conjunto vão custar muitos milhares de milhões de euros que Portugal não tem, tendo para isso de se endividar no exterior pagando juros elevadíssimos, dinheiro esse que não vai criar riqueza em Portugal – pois tudo o que é equipamento e infra-estrutura é importado; nem tão pouco vai criar emprego português pois a mão-de-obra é maioritariamente imigrante. Ou seja, somos um país pobre com comportamento de país rico. Aliás, nem os países mais ricos da Europa como sejam Noruega (cujo salário mínimo é de 2.000,00€), Suécia e Dinamarca têm comboio de alta velocidade e até o poderiam fazer pois têm dinheiro e territórios 4 vezes maiores que o nosso.
Ao nível das Autarquias é mais do mesmo, inclusive de autarcas de partidos que fazem parte da oposição e que tanto criticam, e bem, o Governo pela política de investimentos.
Algumas autarquias com deficit de equipamentos sociais como sejam: equipamentos para pessoas com deficiência, creches, Centros de Dia, Lares e Serviço de Apoio Domiciliário para Idosos, Apoios Terapêuticos para crianças, etc; cortam nos orçamentos da área social prejudicando assim os seus munícipes que se vêem privados de apoio para si e seus familiares. Os mesmos que aplicam estes cortes em áreas prioritárias que não só resolveriam problemas sociais e criariam muitos postos de trabalho, esbanjam dinheiro naquilo que não é prioritário, bem pelo contrário, é supérfluo. Exemplos? * Centenas de milhares de euros gastos em relvados sintéticos para clubes desportivos cujas equipas que, com o devido respeito, militam na “quarta divisão” e que podiam bem “governar-se” com campos pelados que nunca prejudicaram ninguém durante dezenas de anos; * centenas de milhares de euros dados a clubes desportivos para pagar salários de 600,00€ a futebolistas amadores, quando o salário mínimo é de 450,00€ para alguém que trabalha 8h por dia, bem como dinheiro dado a clubes para pagar salários milionários a jogadores de basquetebol; * dezenas e centenas de milhares de euros para dar a federações e associações desportivas para a realização de eventos, os quais podiam muito bem ser reduzidos ou adiados por força da crise económica que vivemos; * milhões de euros gastos em equipamentos sociais que são entregues a instituições que depois não os utilizam ou não exploram a sua capacidade instalada ou, pior, utilizam estes equipamentos para fins diferentes daqueles a que se destinam e utilizam as instalações para arrendar a terceiros e com isso ganhar dinheiro; outros há ainda que possuem edifícios (de dimensão significativa) cedidos por municípios para fins sociais e nem sequer os utilizam.
É por estas e outras razões que Portugal é e continuará a ser um país do terceiro mundo. O Japão é um país pobre, não tem quaisquer recursos no seu território, mas é no entanto uma das maiores economias do mundo. Nós que temos um território e um mar riquíssimos, que já fomos um povo grandioso, aventureiro e aguerrido, estamos desde há anos cabisbaixos, sem forças, e resignados aos políticos incompetentes pois nunca conhecemos, infelizmente, melhor. O Bangladesh é um país riquíssimo em recursos naturais mas os seus cidadãos morrem de fome. Os países são aquilo que os seus cidadãos quiserem. Está mais que na altura de dizer basta a tantos políticos incompetentes. Mas, para isso é importante ter cidadãos atentos ao que se passa e que castiguem os maus governantes e premeiem os bons.
Sinto que ao escrever este artigo estou a fazer um pouco para alertar para este flagelo, espero sirva para alguma coisa. Pela minha parte continuarei a lutar contra aquilo que considero que está mal e a propor soluções.
José Bourdain