A rapaziada de Costa

“Este é o pior governo desde a Rainha Dona Maria”. A frase, apesar de assentar que nem uma luva aos dias de hoje, não é actual, tendo sido proferida há quase três décadas.”

ousa Franco, apanhado numa conversa de café, referia-se nestes termos ao segundo governo de Guterres, de quem, aliás, fora ministro das finanças no anterior executivo.

Se Sousa Franco ainda fosse vivo, certamente que voltaria a ter um desabafo idêntico, adaptando-o aos tempos modernos.

Na verdade, em quase meio século de partidocracia, nunca um governo se tinha confundido tanto com um partido político como este que vai tomar posse amanhã.

Costa chamou toda a rapaziada que lhe é próxima, aquela que não pensa pela sua própria cabeça, mas sim pela do chefe, para com ele conviverem alegremente no governo que deveria ser da Nação, mas que não passa de uma extensão do Largo do Rato.

Aliás, para poupar dinheiro aos contribuintes, as reuniões do executivo bem se poderiam realizar na sede do PS e por lá se distribuírem os gabinetes ministeriais.

A justificação é a de que, considerando os tempos difíceis que atravessamos, como se nas últimas décadas tivéssemos passado, alguma vez, por tempos saudáveis, se torna necessário o recurso a ministros com um vínculo mais político do que técnico.

Certamente que Costa teria encontrado dentro da classe política muita gente com melhores habilitações e mais bem preparados do que estes politiqueiros que sempre orbitaram à sua volta.

Esta equipa, na qual pontificam os putativos herdeiros de Costa, caracteriza-se por ser constituída, quase em exclusivo, por boys e girls que cresceram na jota socialista e dali pularam directamente para os gabinetes de S. Bento, seja no governo ou no parlamento, sem antes se terem distinguindo em qualquer percurso profissional.

Nunca dirigiram uma empresa, nunca tiveram que pagar um ordenado seja a quem for, nunca tiveram a seu cargo a direcção de trabalhadores, nunca se empenharam num trabalho de responsabilidade, nem tão pouco alguma vez tiveram que responder perante uma entidade empregadora.

Ou seja, a experiência de vida que ostentam limita-se á lide partidária!

E, ao que tudo indica, um deles, talvez num futuro mais próximo daquele que se avizinha, vai-se sentar na cadeira que ainda pertence a Costa.

Mariana Vieira da Silva foi catapultada para o governo por influências paternas, com quem, aliás, chegou a coabitar em conselhos de ministros.

Não se lhe conhece, ao longo da sua ainda curta carreira profissional, toda ela exercida no campo político, um único desígnio, para além da vassalagem canina ao seu mestre, a quem tudo se presta.

Será ela a número dois do governo, a substituta de Costa durante as suas ausências ou impedimentos.

Valha-nos Deus!

Pedro Nuno Santos, o protótipo do burguês da esquerda caviar que jamais passou por dificuldades e que gosta de se passear num Porsche, conhecido mais pelo feitio truculento, próprio de meninos mimados que não aceitam ser contrariados, do que pela competência com que se entrega aos trabalhos que tem a seu encargo, foi despromovido para a cauda da hierarquia dos ministros, mas mantém-se na pole position para suceder a quem lhe estendeu a mão e o lançou na ribalta política.

É também conhecido, entre os seus pares, por ser aquele que mais se preocupa com os pobres. Daí ser um fervoroso defensor da sua multiplicação, através da apologia das políticas extremistas e radicais em curso na Venezuela e noutros paraísos socialistas.

Ana Catarina Mendes, outra a quem não se reconhece nada de registo, a não ser o de se ter  responsabilizado, nos últimos anos, por promover a imagem do seu chefe no parlamento e na comunicação social, área onde se tem movido como comentadora, faceta na qual tem evidenciado uma completa carência de imparcialidade e objectividade.

Os seus esforços foram recompensados, sendo premiada com assento no conselho de ministros.

Fernando Medina, o carrasco de Lisboa, o grande culpado pelo caos em que a capital do País se transformou, tendo sido, precisamente por isso, recentemente castigado pelos lisboetas.

O prémio de consolação é a pasta das finanças, matéria da qual ele percebe tanto como os russos de táctica militar.

Que me recorde, é a primeira vez que o regime coloca nas finanças alguém que não tem qualquer histórico nesse sector. Palpita-me que em pouco tempo o erário nacional estará no mesmo nível daquele que ele deixou ficar na autarquia que dirigiu!

Pela negativa e perplexidade, registe-se mais dois personagens, Duarte Cordeiro e Adão e Silva.

O primeiro tem-se destacado por ser o moço de recados de Costa, tendo-lhe sido atribuída a tarefa de enganar a toda a hora o eleitorado, levando-o a acreditar nas mentiras das virtudes da governação socialista, empreitada que, há que o reconhecer, conduziu com êxito.

Compreende-se, pois, que o chefe o tenha galardoado com o título de ministro, mas fica por explicar a razão de lhe ter sido oferecida a pasta do ambiente, área em que não se lhe conhece qualquer atributo.

Adão e Silva, durante anos a fio serviu de correia de transmissão dos governos socialistas junto da imprensa, aproveitando amiúde, nos comentários a que se prestou nas televisões e nos jornais, para enaltecer as supostas qualidades dos dois últimos chefes de governo do PS, ofício em que se especializou até ser nomeado responsável pelas celebrações dos 50 anos da abrilada.

Após o convite para aquelas novas funções, e perante a contestação ao seu nome, justificada pela falta de isenção para o exercício do cargo que lhe fora confiado, procurou convencer meio mundo que se afastara do PS, em geral, e de Costa, em particular, afirmando-se então como genuinamente independente.

Na véspera de ser divulgada a constituição do novo governo, ainda jurou a pés juntos que dele não iria fazer parte.

Estamos conversados quanto à coluna vertebral desta rapaziada.

Gostaria de acreditar que estes novos ministros nos vão surpreender pela positiva, até porque é o futuro de Portugal que está em jogo, mas, no entanto, não duvido de que se vão empenhar em colocar os interesses partidários acima do interesse nacional, conforme tem sido apanágio deste regime.

Mas há dois novos ministros, que se estreiam nessas funções, que vão ser um factor de extrema preocupação.

O da educação, porque, enquanto secretário de estado na anterior legislatura, foi o principal mentor da introdução abusiva da ideologia do género nas escolas.

Foi ele, convém não nos esquecermos, quem determinou o chumbo de dois brilhantes alunos, apenas porque estes se recusaram a frequentar as aulas de doutrinação política, camufladas com a denominação de cidadania.

Os bloquistas e seus associados podem dormir descansados, porque não vai haver qualquer tipo de abrandamento na lavagem ao cérebro das crianças em idade escolar, muito pelo contrário, esta vai ser intensificada.

O outro caso de grande apreensão para o futuro é o da ministra da defesa.

Sim, Portugal nunca conseguiria alcançar o objectivo de ser um país moderno, evoluído, tolerante, desenvolvido e alvo de admiração para lá das nossas fronteiras, enquanto não tivesse uma mulher a responsabilizar-se pela defesa nacional.

A senhora ascende ao posto em questão não por se ter evidenciado no mundo relacionado com a vida militar, mas sim pelo preenchimento de quotas, em especial com as destinadas às chamadas causas do género.

A sua formação é em sociologia do género, seja lá o que isso for, e as suas primeiras declarações, mesmo antes de tomar posse, não auguram nada de bom para o que aí vem.

Não é de descartar a ideia de que a sua primeira cruzada vai ser a implementação, em todos os quartéis militares, de casas de banho sem identificação de sexo, para que aqueles que têm dúvidas quanto ao seu não se sintam melindrados.

Graças a Deus que não é previsível, a médio prazo, a nossa participação directa em qualquer conflito militar.

A recondução das ministras da saúde e da agricultura apenas vêm provar que neste país a mediocridade é sempre recompensada.

A anarquia reina em quase todos os hospitais: as greves de médicos, enfermeiros e de pessoal auxiliar, legítimas, porque assumidas pela ausência de condições de trabalho, são frequentes; a notória falta de efectivos em todos os sectores profissionais, causa primária do deficiente funcionamento das unidades de saúde, não é colmatada; a sistemática morte de doentes   causadas pelo atraso em consultas e cirurgias caem no esquecimento e indiferença; mas a ministra, primeira responsável por este estado de coisas, mantém-se no seu posto, vá-se lá perceber porquê!

A agricultura foi completamente abandonado à sua sorte, mas a titular da pasta, que andou desaparecida em combate durante toda a legislatura, vai continuar a primar pela ausência.

Os poucos ministros do anterior governo que se destacaram por algum grau de competência foram despachados, os incompetentes foram reconduzidos.

E os boys e girls tomaram de assalto os principais ministérios!

É este o retrato do novo governo do PS, que não o de Portugal!

Pedro Ochôa, in SOL.pt

Uma grande mentira e a grande ilusão

A penosa procissão de malfeitorias e urdidura de protofascismo sanitário com 730 dias de duração baseia-se numa grande mentira e numa grande ilusão.

«Estamos em guerra – porque de uma verdadeira guerra se trata». «E quanto mais depressa formos, mais depressa poderemos salvar vidas». «Nesta guerra, como em todas as guerras, só há um efetivo inimigo, invisível, insidioso e, por isso, perigoso.» «Nesta guerra, ninguém mente nem vai mentir a ninguém.»

Depois de se ter hipocondriacamente isolado na sua casa particular em Cascais, não estando doente nem sequer infectado e sem ter qualquer sintoma de covid19, Marcelo Rebelo de Sousa declarou a 18 de Março de 2020 o primeiro estado de emergência nacional desde 1974, usando as expressões citadas no parágrafo antecedente.

O país estava em confinamento geral obrigatório, uma medida antes sempre desaconselhada do ponto de vista da sáude pública e nunca decretada a pessoas saudáveis, salvo na China onde essas práticas tirânicas são regulares, mas que até essa data eram entendidas pela generalidade das sociedades democráticas como desumanas e moralmente grotescas. Iniciava-se a ladainha hipnotizante das “duas semanas para achatar a curva” que acabou por se manter nas nossas vidas durante dois anos.

Desde essa altura, início do maior ataque generalizado dos governos às liberdades individuais de sempre, aquilo que alguns questionavam e criticavam veio muito paulatinamente a tornar-se opinião mais corrente na sociedade, embora esteja longe de ser dominante em Portugal. Já não são objecções exclusivas de “chalupas” ou “negacionistas” como muitos asquerosa e cobardemente apelidavam (e continuam a qualificar) pessoas razoáveis, informadas, mas com pensamento crítico próprio.

Uma a uma, sem excepção, as chamadas “medidas de combate” à covid, instauradas pelo governo e sugeridas por agências públicas lideradas por zelosos guardiões da boa imagem da tutela, revelaram-se invariavelmente ineficazes, bastas vezes contraproducentes e frequentemente ridículas. O exemplo mais perverso e cruel que delas ainda hoje perdura é a obrigação legal do uso de máscara em supermercados ou transportes públicos, culminando na sádica sujeição de crianças a idêntico normativo dentro das escolas.

Mesmo que já se tenham apercebido do mal infligido às pessoas (sobretudo os mais vulneráveis e desfavorecidos), obrigando à alteração de comportamentos e suspensão de projectos de vida com base em orientações e raciocínios enviesados que claudicaram ao medo e à pressão social, quase ninguém da classe dos especialistas, das hordas de zeladores de cumprimento da inédita etiqueta sanitária ou da catrefa de influenciadores twitteiros admite os erros grosseiros que cometeram e muito menos assume culpa da imoralidade de 24 meses de políticas e decisões que, ao contrário da narrativa prevalente, nunca foram baseadas na ciência.

Embora não se espere que venham a sentir vergonha na cara, esperemos, pelo menos, que o fracasso das suas teses já não possa ser encoberto e, se remorso de consciência não é algo que os pareça afectar, talvez a negação do perdão popular os faça ansiar pela indulgência divina. No entretanto, esses autoproclamados “agentes de saúde pública” não deixarão de transferir responsabilidades para terceiros, invocando, entre outras, a balela de que à data dos factos o conhecimento científico não permitia opções e fórmulas de acção diferentes das preconizadas. Esta gente quer ser inimputável e exonerar-se do desastre social que ajudaram a promover. Daí que o mais conveniente seja fomentar uma amnésia pública sobre tudo o que foi feito e adoptar o discurso de que agora o que importa é seguir em frente e não agarrarmo-nos a questiúnculas passadas ou polemizar sobre o que criou divisões e segregação.

Porém, o melhor caminho de futuro é apreendermos as lições do passado recente para nos prevenirmos contra abusos idênticos e nos protegermos de semelhantes tragédias a que nos queiram sujeitar a pretexto de outra qualquer “emergência” ou “guerra” declarada por decisores políticos. É que a vontade e as primeiras manobras para se passar a decretar estados de excepção sempre que os focus group aconselhem já veio do próprio chefe de Estado. O Presidente deveria ser uma derradeira garantia dos cidadãos perante os abusos do Estado, mas foi ele o primeiro a fazer vista grossa sobre a evidente falta de cobertura constitucional e até ilegalidades reconhecidas pelos tribunais acerca de medidas do Governo no âmbito da covid. Marcelo defende a criação de uma lei específica sobre emergência sanitária e, se necessário for, uma revisão constitucional à medida deste objectivo. Dito de outra forma, pretende um salvo-conduto para suspender a eito direitos fundamentais, evitando controvérsia e escrutínio acerca da privação das liberdades dos cidadãos. A artimanha combinada com o Governo, e certamente com a aquiescência da maioria dos deputados, é tão desbragada que chamaram para apoiar na elaboração deste futuro novo diploma a Provedoria de Justiça e a Procuradoria-geral da República, entidades que deveriam fiscalizar a iniciativa legislativa em vez de nela participarem e serem, na prática, co-autores da mesma.

Mas quero destacar de toda esta penosa procissão de malfeitorias e urdidura de protofascismo sanitário com 730 dias de duração, uma grande mentira e uma grande ilusão.

A grande mentira inicial foi a de que todos os grupos da população tinham o mesmo risco de ficarem doentes. Desde muito cedo, e seguramente antes da declaração do estado de emergência, várias pessoas qualificadas, tanto em Portugal como no estrangeiro, fizeram notar que a covid era uma doença com a qual seria até relativamente fácil de lidar porque embora o risco de infecção fosse semelhante para todas as faixas etárias, o risco de contrair doença relevante ou grave era acentuadamente e desproporcionalmente muito mais elevado para os idosos do que para o resto da população. De tal forma que em casos sem outras patologias graves associadas, a grande maioria dos óbitos ocorreu em pessoas cuja esperança de vida restante era já, infelizmente, muito reduzida. Estes dados e evidências estavam disponíveis à época e eram mais do que suficientes para serem usados na definição das políticas públicas. Mas o governo fez exactamente o contrário e não só foi complacente como deliberadamente promoveu a mensagem falsa e corrompida de que estaríamos «todos juntos», «todos no mesmo barco» e igualmente sujeitos às consequências gravosas do vírus. Ou seja, ao contrário do império da verdade que prometeu o pior e mais inútil Presidente da República que Portugal já teve em democracia, cavalgou-se uma patranha e adoptaram-se políticas indiscriminadas e uniformes para todos, que nunca foram necessárias e muito menos úteis.

A grande ilusão ainda é a de que, por mais medonha que seja a ameaça, com dinheiro e alocação de recursos suficiente, o Estado tudo pode fazer para nos salvar. Ao longo de décadas a população tem vindo a ser voluntária e involuntariamente endoutrinada acerca da omnipotência do Estado, criando na comunidade demasiadas expectativas quanto ao que os governos podem fazer para proteger os cidadãos dos infortúnios. Foi-se perdendo a noção da responsabilidade primeira da protecção individual e conferiram-se poderes alargados aos agentes do Estado para implementar medidas extremas e contrárias a um módico de preservação da autonomia e liberdade das pessoas. A prossecução lírica e delirante de uma política de “covid zero” e a infantil e egoísta quimera de uma vida sem risco cedo levaram muitos a não olhar a meios para criar uma falsa sensação de protecção em vez de viver a vida tal qual ela é na realidade. Esta grande ilusão tem também algo de uma religiosidade pervertida e de uma triste falta de humildade ao crer que o Homem pode dominar e impor-se à Natureza.

Quando renunciamos à liberdade e em nome da segurança atribuímos ao Estado o direito de ingerência na esfera de responsabilidade individual, a condição moral da nossa civilização perde-se e entramos numa inexorável marcha para a desumanização.

Como dizia o replicante Roy para Deckard na cena final do filme Blade Runner, de Ridley Scott: viver em medo é uma experiência singular, mas essa é a condição de ser escravo.

Telmo Azevedo Fernandes, in Observador

Costa e a síndrome de Estocolmo

Será injusto dizer-se que foram os portugueses que decidiram a continuidade de Costa, mas sim apenas uma pequena parte deles, mais propriamente um quarto daqueles que têm o poder do voto, mas o sistema eleitoral assim o permite, ficando nas mãos dos que se deslocam às urnas o assumir das responsabilidades de quem prima pela ausência.

Em Agosto de 1973, um assalto a um banco em Estocolmo resultou num sequestro com diversos reféns, situação que se prolongou por quatro dias, sendo que as vítimas criaram uma relação de afectividade com os criminosos, acabando por, em certa medida, os defender, não apenas durante as negociações para a rendição daqueles, como também ao longo do processo judicial.

Um conhecido criminologista e psicólogo, que colaborou com as autoridades policiais durante o período do assalto, diagnosticou este fenómeno como a síndrome de Estocolmo, descrevendo-a como um distúrbio em que as vítimas passam a identificar-se emocionalmente com os criminosos, numa fase inicial como modo de defesa, por medo de retaliação ou de violência por parte deles.

Em caso de sequestro, as vítimas não conseguem alcançar uma visão clara da realidade nem avaliar o perigo real a que estão sujeitos, temendo qualquer tentativa de libertação por recearem dela saírem magoadas.

Este processo desenvolve-se sem que a vítima tenha disso consciência, aproximando-se de forma afectiva e emocional do criminoso, como meio de se distanciar da realidade perigosa e violenta a que está submetida.

Desde então têm-se verificado diversos episódios análogos, um pouco por toda a parte, sendo que o último se observou em Portugal, na semana passada, conforme o atesta o resultado da contenda eleitoral em que os portugueses foram convidados a participar.

Depois de seis anos de completa desgovernação, da qual nos afundámos num abismal aumento da carga fiscal para níveis nunca antes conhecidos, bem visível, entre muitos outros, no preço dos combustíveis, que não param de subir; de um alastrar da corrupção, que se tornou no maior cancro da sociedade; de intermináveis casos de desastrosa habilidade para o exercício de funções governativas, levando à queda de vários membros do governo e de outros servidores do Estado; de uma total estagnação do desenvolvimento social e económico, que teve como consequência sermos ultrapassados por quase todos os países que até há poucos anos viviam no limiar da pobreza, vítimas das ditaduras comunistas a que foram subjugados; enfim, depois de termos empobrecido às custas dos mais incapazes governos que nos caíram em sorte, eis que o eleitorado português resolve premiar a incompetência e o desvario de Costa e dos seus cúmplices, oferecendo-lhes uma maioria absoluta!

Será injusto dizer-se que foram os portugueses que decidiram a continuidade de Costa, mas sim apenas uma pequena parte deles, mais propriamente um quarto daqueles que têm o poder do voto, mas o sistema eleitoral assim o permite, ficando nas mãos dos que se deslocam às urnas o assumir das responsabilidades de quem prima pela ausência.

Costa venceu e está, agora sim, legitimado para levar adiante todas as políticas a que se propõe. Esta é a regra do sistema de partidocracia que nos foi imposto e a ela estamos condenados, razão pela qual de nada nos consola encontrar uma explicação para um acto de cegueira colectiva que nos conduzirá, ainda mais depressa, para o abismo em cujo cume já nos encontramos.

Costa provou que é, sem sombra de dúvidas, o melhor político no activo em Portugal.

Soube aproveitar-se, como ninguém, de uma crise pandémica que há muito deveria ser considerada ultrapassada, retirando daí os louros pessoais por um alegado papel messiânico de protector e salvador dos portugueses, livrando-os, graças à sua suposta superior inteligência e capacidade organizativa, de um inferno a que estariam condenados por via de um vírus maldito importado do extremo oriente.

E os portugueses, a maioria dos que votaram, caíram no engodo e elevaram Costa quase à divindade, reconhecidos pelas suas qualidades que muitos tomaram como celestiais.

Soube, igualmente, tirar partido das fragilidades daqueles que se perfilharam como alternativa à sua governação, tendo ainda sido bafejado pela sorte por poder assistir às lutas internas no seio das formações políticas com quem se confrontou.

Deixou passar, repetidamente, a mensagem de um Rio honesto, mas inapto para a condução dos destinos do País, criando, desse modo, a ilusão de que somente ele está munido da sapiência necessária para o exercício das mais altas funções governativas.

Astuto, tem plena consciência, e dessa realidade se serviu, de que os portugueses, a maioria dos que votam, se estão nas tintas para que um governante seja corrupto ou não, desde que apresente obra feita!

Só assim se compreende que diversos autarcas, entalados em vergonhosos processos judiciais, muitos deles já condenados e com as sentenças transitadas em julgado, outros já mesmo com penas de prisão cumpridas, sejam reeleitos, com o simples argumento de que fizeram muito pelos concelhos que delapidaram.

Num Exército, maus comandantes produzem maus soldados. Num país, maus governantes tornam o povo amorfo, quizilento, preguiçoso e indiferente ao seu destino.

No entanto, um bom político não significa, necessariamente, que seja um estadista, porque enquanto que este governa para as próximas gerações, aquele fá-lo a pensar nas próximas eleições.

Costa, para se manter no poder, vendeu a alma ao diabo, condenando, com esse seu egocêntrico gesto, todo um povo a uma travessia no deserto que se tem revelado desastrosa para o desenvolvimento da sociedade.

Os portugueses, a maioria dos que votam, infectados pela síndrome de Estocolmo, recusam-se a tomar consciência dos actos do seu carrasco, cruzando-se com ele emocionalmente por recearem, sobretudo, uma retaliação que os deixe indefesos.

Ao mesmo tempo, perderam o discernimento da realidade que os rodeia, desconfiando dos alertas para os perigos que condicionam o seu futuro e conformando-se com a sua situação de sequestrados por um socialismo que os agoniza e os impede de saírem da sua condição de mais pobres entre os pobres da Europa mais evoluída.

Vítimas de uma cegueira que lhes ofusca a consciência e os impede de se darem conta do fosso em que os atolaram, não embarcam em tentativa alguma que os liberte das garras dos captores, receando bem mais a sorte que lhes reservam os seus presumidos libertadores do que aquela a que se acostumaram.

Enquanto continuarmos a depender do voto decisivo destes enfermos da síndrome de Estocolmo, por causa da metade dos portugueses recenseados que teimam em fechar-se em casa em dias de eleições, estaremos condenados a chafurdar no imenso pântano em que Portugal se converteu, por obra e graça dos incompetentes e desmiolados políticos que insistem em nos desgraçar.

Não se queixem, pois, os que se demitem do seu dever, mas rogam pragas aos eleitos por quem votou!

Opinião, in SOL.pt

Um Psicólogo Israelita explica Portugal

Em Portugal, o Socialismo – tal como o Comunismo – funciona como uma religião e poucos são os crentes que conseguem libertar-se do dogma. Quem criticou Sócrates enquanto ele levava o país para o abismo? E quantos não o defenderam ou desvalorizaram as notícias que noutro país, com outra exigência ética, o forçariam a uma demissão? 

Em 1966 um psicólogo israelita chamado George Tamarin fez uma experiência que chocou o mundo: perguntou a um grupo de mil estudantes judeus o que pensavam sobre um episódio da Bíblia com grande violência: a conquista de Jericó por Josué de que resultou um massacre da população. Resultado: 66% dos inquiridos aprovou e justificou o massacre feito pelos israelitas. No entanto, quando modificou os nomes e os locais da história – Josué passa a ser um general chinês -, noutro grupo de estudantes os resultados foram inversos: 75% condenou o massacre.

Agora reproduza-se a experiência em Portugal desta maneira: conta-se a um grupo de adultos uma história onde um rei tinha gastado mais do que o reino produzia, o que levara esse reino a perder a independência e a tornar-se vassalo de outro. Seguira-se um tempo de pobreza e humilhação. Além disso, tinha havido um naufrágio onde morreram dezenas de pessoas, mesmo depois do rei ter sido avisado de que era preciso reformar esses barcos e nada ter feito. Contava-se ainda que os conselheiros do rei nomeavam a família para os melhores cargos e havia imensa corrupção. Vinte anos depois, o reino fora ultrapassado por outros mais atrasados e era um dos mais pobres do continente.

Quantas pessoas aprovariam o comportamento deste rei? Quantas considerariam que o reino fora bem governado? Nenhuma, tenho a certeza!

Agora, com outro grupo de adultos, a experiência de Tamarin é esta: substituímos a história do reino malgovernado pela história do PS nos últimos vinte anos. E se lhes perguntássemos se o PS era responsável pela bancarrota, a vinda da Troika e a austeridade, se Costa tinha responsabilidades políticas por ter estado ao lado de Sócrates, por não ter tomado as medidas para prevenir a segunda vaga de incêndios, por manter ministros envolvidos em escândalos, por nomear amigos para órgãos independentes e, por fim, pelo atraso económico do país, os resultados seriam diferentes. Tal como os israelitas, mais de metade iria encontrar justificações, desculpas e outros culpados.

Ou seja, a maioria absoluta que o PS conquistou.

Assim se vê que tanto a religião como a política têm o poder de alterar o julgamento moral de determinados acontecimentos quando estes entram em conflito com as crenças mais profundas do ser humano. Algo semelhante verifica-se no futebol: o cidadão bem-formado e respeitador da lei, subitamente, transforma-se num hooligan que insulta o árbitro e vota no presidente do seu clube sabendo que ele é corrupto. O que importa é ganhar. Ou, também, o que importa é que o adversário não ganhe.

Em Portugal, o Socialismo – tal como o Comunismo – funciona como uma religião e poucos são os crentes que conseguem libertar-se do dogma. Quem criticou Sócrates enquanto ele levava o país para o abismo? E quantos não o defenderam ou desvalorizaram as notícias que noutro país, com outra exigência ética, o forçariam a uma demissão? Tal como os estudantes israelitas, os eleitores socialistas viram em Sócrates um Josué que encarnava o Bem e cujos métodos (pacíficos, obviamente) eram justificáveis. Se as suas trombetas tinham derrubado o muro de Jericó da Direita, porque não desculpar-lhe alguns pecadilhos? Foi-lhes por isso muito fácil atirar com as culpas da bancarrota socialista para cima de Passos Coelho e transformar Costa no salvador que os conduziu para a terra de Caná onde manava mel e leite e austeridade disfarçada.

E o reverso da crença é a fúria: como te atreves negar a existência de Deus e os seus milagres? Se não acreditas no Bem (o Socialismo), só podes ser uma pessoa má (de Direita). O crítico do Socialismo, o blasfemo que prefere o mérito à igualdade, é, assim, transformado num herege que merece a fogueira. Basta ver os insultos e ameaças nas redes sociais e nas caixas de comentários dos jornais.

Se George Tamarin tivesse feito a sua experiência em Portugal, talvez fôssemos um país diferente.

Opinião, in SAPO.pt

Tensão nos cuidados continuados

A ANCC acusa o Governo de ‘fazer de propósito’ para levar Unidades ‘à falência’, enquanto o Ministério da Saúde garante que ‘o trabalho das Unidades, mesmo em condições adversas (…) tem sido pautado pelas boas práticas’.

A Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC) avançou ontem com uma providência cautelar contra o Estado Português pela não atualização dos preços dos Cuidados Continuados.

«Há duas semanas, enviámos um comunicado a lamentar a insolvência de uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) no concelho de Ourique e, uma semana depois, infelizmente, há a lamentar a insolvência de uma das nossas associadas, desta feita no Concelho de Setúbal, são mais 60 camas que a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) perde», lê-se no comunicado a que o Nascer do SOL teve acesso. José Bourdain, presidente da direcção da ANCC, explica ao Nascer do SOL que desde 2011 não há um aumento de preços dos cuidados continuados:

«Portugal passou um tempo difícil com a troika e eu até compreendo que não tenha havido aumentos, mas também não houve aumentos do salário mínimo nacional (SMN) e o custo de vida em geral também não aumentou, pelo contrário». 

«O Governo também aumentou a taxa social única para o setor social – um aumento que começou ainda no tempo de José Sócrates, que passou pelo período da troika e continuou a aumentar com este Governo», acrescenta, dizendo que a balança fica desequilibrada, já que são aumentos de recursos «brutais» e no outro prato há «pouco mais que zero». 

Ou seja, «se a taxa de inflação é, por exemplo, 1% e aumentam 1% esse não é um verdadeiro aumento». A providência cautelar surge agora porque, defende, já que António Costa não aumenta os preços dos cuidados continuados, «que faça aquilo que está obrigado por lei a fazer que é aumentar os preços com base na inflação». A ANCC endereçou uma carta ao primeiro-ministro, mas não obteve resposta.

No mesmo comunicado, a ANCC indica que o Governo, desde 2007, «está obrigado a atualizar os preços das diárias em Cuidados Continuados em função da inflação verificada no ano anterior; obrigação essa determinada pelas sucessivas portarias que estabelecem o regime de definição de preços e de responsabilidade na repartição e assunção dos encargos pelas diferentes entidades envolvidas que integram a RNCCI». 

O Ministério da Saúde, em declarações ao Nascer do SOL, argumenta que, «ao longo dos anos, as atualizações da tabela de preços tiveram em conta o Índice de Preço do Consumidor, publicado pelo INE». «Contudo, no ano de 2021 a RNCCI contou ainda com o aumento de 3,3%, permitindo a revisão dos preços dos Cuidados Continuados Integrados (CCI) de Saúde Mental», «o pagamento a 100% da diária às unidades da RNCCI, face à diminuição das taxas de ocupação decorrentes de ajustamentos organizacionais motivados por critérios de segurança dos doentes justificados pela pandemia de COVID-19» e «um aumento extraordinário no valor de 6% na tipologia de longa duração e manutenção, estabelecido em sede de Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário no biénio 2021-2022». 

Segundo o Ministério da Saúde, «a RNCCI é uma resposta indispensável ao cidadão e à continuidade de cuidados, que se deseja de qualidade», destacando que «o trabalho das Unidades, mesmo em condições adversas como a situação pandémica em que temos vivido nos últimos anos tem sido pautado pelas boas práticas». «O Ministério está atento às preocupações que nos transmitem, procurando responder-lhes com elevado sentido de responsabilidade e de dever público».

A seu lado, o presidente da ANCC lembra que a União Europeia – desde o surgimento do novo coronavírus – permitiu flexibilizar as contas dos Estados, que todos os Governos aumentassem as despesas e que houvesse um reforço orçamental para toda o setor da saúde. Mas lança a questão: «Por que razão os Cuidados Continuados não tiveram um único sentido de reforço orçamental?». Segundo crê, «com a questão de que tudo tem de ser Estado e nada pode ser privado na área da saúde, o Governo faz isto de propósito para nos levar à falência». 

José Bourdain explica que há um outro fator que é importante não esquecer. Em 2017 e em 2018, o Governo assinou um compromisso de cooperação com o setor social e solidário e comprometeu-se a aumentar os preços na área social em geral e as décimas na inflação dos cuidados continuados e esteve «um ano e meio em que não o fez».

A ANCC também levou a cabo uma outra providência cautelar na altura – que o tribunal aceitou – e o Governo, em janeiro de 2019, «veio publicar duas portarias a atualizar os preços com base na inflação», continua. Mas «não o fez com efeitos retroativos, ou seja, tudo o que estava antes de janeiro de 2019 e que o governo tinha assinado que iria aumentar, não aumentou». 

O dirigente dá o exemplo da sua própria instituição, que tem a presidência da ANCC, que tem 58 mil euros em dívida e levou o Estado a tribunal, «mais uma vez, para tentar reaver o dinheiro». E este tipo de processos «arrastam-se» durante anos. 

Até agora, diz, não houve nenhuma decisão por parte do tribunal. Para agravar este problema, o Estado não paga desde 2015 dívidas a algumas associadas. «Tenho colegas de outras associações com 62 milhões de euros em dívida desde 2015 para cá».

Assumir a nacionalização 

O Orçamento de Estado tinha «milhões de euros para os chamados hospitais de proximidade» – como por exemplo em Sintra ou no Seixal. Mas um Hospital de proximidade «não é um hospital», clarifica José Bourdain. «São camas em cuidados continuados disfarçados de hospitais de proximidade». 

O presidente da ANCC adianta que, em maio de 2021, reuniu com Marta Temido e conta que desafiou os partidos que apoiavam o Governo a «assumirem que querem uma rede de Cuidados Continuados Pública» que são «contra a rede privada». 

E, neste sentido, propôs à ministra da Saúde a nacionalização destas unidades. «É que levarem-nos à falência de forma propositada não me parece o caminho mais correto. Não é ético», defende. «Se querem uma rede pública, assumam isso e paguem as instituições o valor que gastaram nos edifícios e nos equipamentos e os profissionais passam para ir para a esfera pública».

Quando foi feita a discussão sobre a lei de bases da saúde, PS, BE e PCP «disseram olhos nos olhos que nós somos como a pastilha elástica: usar, mastigar e deitar quando não precisarem».

O presidente da ANCC diz ainda que ofereceu a sua instituição para a esfera do Estado e que não é preciso dar nada por ela. «A ministra da Saúde disse que não era de todo aquilo que queria, mas realmente não é o que parece. Estão a causar-nos problemas gravíssimos», concluiu.

Por Gonçalo Morais e Maria Moreira Rato, in SOL.pt

https://sol.sapo.pt/artigo/760705/tensao-nos-cuidados-continuados

Cuidados Continuados-Unidades Privadas em risco de falência

WeCare Saúde – Rede Nacional de Cuidados Continuados, SIC Notícias 1a parte
WeCare Saúde – Rede Nacional de Cuidados Continuados, SIC Notícias 2a parte

Apesar da herança que Sócrates deixou e da que Costa se prepara para nos deixar, depende de nós conseguirmos recuperar

É há muito sabido que, quando entidades oficiais repetem em público vezes sem conta uma determinada mentira com ar sério e convincente, se esta comunicação falsa for mantida ao longo dos anos, quase toda a gente acaba por, mais cedo ou mais tarde, acreditar na veracidade daquilo que lhe é dito, ou seja, deixam de ser capazes de distinguir a verdade da falsidade. Ora, o facto é que quase toda a gente no nosso país – inclusivamente quem escreveu a actual Constituição da República Portuguesa, foi efectivamente doutrinada para pensar, desde o 25 de Abril de 1974, que o PCP devia ser considerado um partido confiável e inofensivo, e que só os “fascistas” deveriam ser proibidos de participar no nosso regime democrático.

E de facto, parece ter sido preciso que surgisse no nosso panorama e discurso político alguém como André Ventura e o seu partido Chega, para que os outros partidos políticos pusessem em causa a admissibilidade de algum partido e a legitimidade de alguém como Ventura para poder ou não candidatar-se, por exemplo a deputado, a Presidente da República ou a representante de um município.

Ora, quanto a mim, a situação pouco clara e ambígua que existe em Portugal no plano constitucional não é nada salutar para o regime, e poderá até ser vista como um caso de humor negro que acabou por ser socialmente aceite pela nossa elite jurídica e política. Tentarei pois explicar as razões que me levam a dizer isto.

Todos aqueles que ideológica e politicamente alinham a favor das teses defendidas pelo PCP e pelo BE (os partidos portugueses mais “de extrema esquerda”) são pessoas cujos ícones ou modelos políticos encontram-se algures numa lista cujas figuras mundiais mais célebres foram Lenine, Estaline, Mao Tse Tung, Trotski, Pol Pot, Kim Il Sung, Ho Chi Minh, Fidel Castro, Hugo Chávez, e, para os portugueses, principalmente Álvaro Cunhal e Agostinho Neto.

Ora, qualquer pessoa que tenha um conhecimento mediano sobre História Mundial durante o século XX, tem a estrita obrigação de saber que, no século passado, houve no mundo dois regimes ideológico-políticos que, só à sua conta – porque houve também outros também tenebrosos -, mataram sem justificação aceitável nem incriminação expressa mais gente, e causaram mais sofrimento e destruição, do que em outra qualquer época histórica.

Um, foi o comunismo (que já foi também chamado “socialismo real”, “democracia” ou “ditadura do proletariado”), e os historiadores que mais o estudaram estimam que, em resultado da sua acção, o número global de mortes terá rondado 100 milhões de pessoas (para não falar nos outros tipos de crimes que cometeram, e cujas vítimas são muito mais difíceis de contabilizar) – de acordo com a volumosa obra colectiva “O livro negro do comunismo / Crimes, terror, repressão”, originalmente publicado em francês pela Ed. Robert Laffont, em 1997.

O outro regime, o nazismo, parece igualmente ter tido origem num perigosíssimo psicopata (neste caso, Adolph Hitler) e, embora tenha sido classificado por muitos como “o regime do mal absoluto”, em termos quantitativos das vítimas mortais que causou, acabou por ser menos mortífero que o comunismo, apenas por este regime ter sido entretanto vencido militarmente, não tendo tido portanto tempo para matar mais do que uns 25 milhões de pessoas.

O que parece mais paradoxal do ponto de vista português, e a meu ver representa sem dúvida um espantoso caso de estudo, é o facto de no nosso país o comunismo continuar ainda hoje a ser visto como totalmente compatível com um regime democrático em que os direitos humanos sejam respeitados, e a ser inclusive considerado, por pelo menos 5% da nossa população, como o único regime verdadeiramente exemplar –, ao passo que o PCP (descendente directo dos comunistas soviéticos) e o BE (com origem noutras versões do sistema comunista, como o trotskismo), tratam como seus piores inimigos quem quer que se atreva a confessar-se admirador do “horrendo ditador Salazar”, falecido há mais de 50 anos sem ter deixado seguidores (e que, tal como qualquer governante ditatorial ou autoritário, dispunha da ajuda dum sistema oficial de censura ao que era dito ou escrito, e duma polícia política, a PIDE, incomparavelmente menos perigosa e assassina que o KGB ou outras polícias congéneres comunistas), já que, em 40 anos de “poder absoluto”, a dita Pide terá morto talvez umas cem pessoas, em lugar de dezenas de milhões).

Perdoar-me-ão talvez (ou, muito provavelmente, não perdoarão) o facto de eu estar a comparar um “ditador de direita” (Salazar), portanto alguém muitíssimo mal-intencionado, com líderes de esquerda (os atrás referidos e outros), logo, gente bem-intencionada e cuja missão histórica consistia, alegadamente, em criar condições para que a humanidade passasse, toda ela, a só poder ter indivíduos bons, camaradas nobres e igualitários, num mundo ideal onde nunca mais fosse possível existirem homens que explorassem outros homens.

Ora, surpreendentemente, em vez de terem criado esse belo mundo novo dos “amanhãs que cantam”, alguns países houve em que se verificou a “perversão do poder absoluto comunista”, que, não obstante a lendária tolerância que caracteriza sempre esses regimes de verdadeira esquerda, resultou na mais gigantesca e incompreensível tragédia de todos os tempos – se somarmos os seres humanos exterminados na imensa China, na União Soviética, Coreia do Norte, Vietname, Cambodja, Europa de Leste, África (Angola e outros), Afeganistão, América Latina (Venezuela e outros), etc.

Até mesmo neste nosso brando e doce Portugal, durante o célebre PREC de 1974/75, quando o país teve um governo revolucionário liderado pelo general Vasco Gonçalves (ou “camarada Vasco”), comunista não assumido, tivemos claros sinais do que seria uma governação toda ela do PCP (o BE só veio a nascer mais tarde), que teria sem dúvida justificado uma guerra civil – a qual foi felizmente travada e evitada a tempo, quando, em 25 de Novembro de 1975, os militares dos Comandos (dirigidos pelo coronel Jaime Neves e sob orientação do general Eanes) abortaram a tentativa de golpe da extrema-esquerda, sem matarem ninguém. E os portugueses puderam, enfim, eleger uma nova Assembleia que daria origem ao primeiro governo classificado como democrático – em que o PCP teve a sua primeira decepção eleitoral, pois acalentava a esperança de ser um dos partidos mais votados e, incrivelmente, não foi.

É claro que, graças à decisão do MFA de conceder ao PCP o favor de não ser liminarmente excluído do recém-nascido “regime democrático português” (e de acordo com os dirigentes da então União Soviética, que nessa altura, aliás, só se mostrou interessada em ficar com o domínio das principais ex-colónias lusitanas em África, mas não do Portugal europeu), e graças também ao longo treino dialéctico que houve entre 1974 e agora, todos estes factos e sentimentos tornaram-se cada vez mais longínquos, “diferentes” e ténues. Chegou-se assim ao ponto de a generalidade dos portugueses (mesmo os que eram democratas genuínos já antes do 25 de Abril de 74, e não fictícios) ter deixado de pensar e de sentir que os “confrontos ideológicos” entre comunistas e não-comunistas, que no PREC tinham importância e acutilância enormíssimas para quase todos nós, foram-se esbatendo, e hoje já praticamente ninguém se preocupa, liga a menor importância ou diz uma única frase “desagradável” sobre estes assuntos. Por outras palavras: o longo processo de branqueamento do real perigo que o comunismo representava, precisou de muito tempo e teve de passar por numerosos conflitos e peripécias, mas, por fim, foi conseguido, de tal modo que a maioria dos portugueses está convencida que se trata dum regime e dum partido absolutamente inofensivos – tal como a própria Constituição, implicitamente, reconhece e confirma.

Pelo contrário – e isso é que me parece incompreensível e mesmo anedótico -, a nossa tão louvada Constituição atribui ao antigo “regime salazarista” uma perigosidade incomparavelmente maior do que aquela que teve (e, digo eu, continua a ter) o regime comunista, chegando ao ponto de interditar a existência legal, no nosso país, de um partido que confesse orientar-se por adesão a valores anticomunistas, nacionalistas e católicos semelhantes aos de Salazar, que designa acintosamente por “fascistas”- como se o Estado Novo tivesse alguma semelhança com os regimes criados ou liderados por Franco e Mussolini.

É por saber que existe, no actual sistema político nacional, esta situação que a meu ver é demencial e deliberada, e ter consciência da sua aparente falta de importância no nosso jogo político, que fiz questão de vir agora, quando estamos em vésperas destas específicas eleições legislativas, lembrar aos eleitores portugueses que a verdade das coisas não tem nada a ver com a imagem que os políticos dão dela nas suas declarações.

Por outras palavras: senhoras e senhores eleitores, por uma vez não se deixem enganar de novo quanto à pretensa bonomia que as palavras dos líderes do PCP e do BE deixam transparecer, pois é tudo falso, perigosamente falso. Não sejam deles cúmplices, a menos que estejam realmente conscientes do seu verdadeiro significado, e queiram colaborar nesses projectos de poder ínvios.

 Quando o líder do actual PS, António Costa, a partir de 2015 escolheu o PCP e o BE como os únicos parceiros com quem aceitava governar, isso, só por si, definiu-o, como político que pretende governar o país com base em determinados valores ideológicos, que são os que conhecemos e não outros quaisquer.

Eu sei que, a partir de Sócrates, o PS passou a ter identidade bem diferente da que tivera desde que foi criado. Por muito hábil que Costa seja, e perito em endrominar as pessoas, é bom que ninguém se esqueça que ele, além de muitas outras coisas, foi durante anos o seu braço direito e, é claro, o seu mais entusiástico apoiante político. Isto não quer dizer que sejam muito parecidos como pessoas. Mas quer dizer que, cada um à sua maneira, ambos eles tendem a abusar do poder político que conseguem obter, e tornar-se, de um modo ou doutro, “donos disto tudo” – como tem realmente acontecido, e os exemplos abundam -, fazendo com que o poder judicial passe a estar submetido ao poder político e privando da indispensável independência as diversas entidades a quem cabem os mecanismos de regulação. E tendem, também, a rodear-se de ‘yes people’, que só por milagre serão as melhores escolhas para o bem da governação nacional.

Pelo menos num sentido, José Sócrates, embora a maioria dos portugueses (em que me incluo) esteja convencida da sua propensão compulsiva para a corrupção e a mentira, teve a meu ver uma faceta que acabou por dar melhor resultado: criou muitos anticorpos contra si, mesmo na comunicação social, daí que muitos jornalistas tivessem passado a ser capazes de se referir a ele, pela primeira vez, com a isenção e o sentido crítico que se esperam de qualquer jornalista que preze a sua profissão. Ao passo que Costa, sendo também, a meu ver, bastante medíocre como governante e primeiro-ministro, tem sido suficientemente habilidoso e cuidadoso de forma a ter sempre o apoio acrítico dos media, por piores que sejam as medidas que impõe. E acabou por fazer também muito mal ao país, talvez sem correr o risco de prisão, sempre com as suas sorridentes promessas não cumpridas e não cumpríveis, tendo deixado o país num estado cada vez mais na cauda da Europa, sem rumo nem esperança de melhorar, e uma sociedade sem saúde, capacidade crítica nem energia vital, além de, também, endividadíssima.

A avaliar pelas preferências que as sondagens de intenções de voto continuam a detectar nos eleitores portugueses (o que vale é que estas sondagens tendem sobretudo a induzir em erro os eleitores), o narcisismo e energia que são dissipados por A. Costa para manter o poder por todos os meios, e a sua capacidade propagandística, têm bastado para convencer milhões de portugueses. Ainda assim, tudo parece indicar que um número crescente de portugueses está finalmente a considerar, pela primeira vez, mudar o seu sentido de voto, cansados e fartos que estão de se tornarem cúmplices de um sistema político rico em jogadas sujas que os faz, por fim, sentir que será menos estúpido e mais saudável arriscar uma mudança de sentido de voto, optando por apostar antes em alguém que, sendo tudo menos um habilidoso amoral, tem (além de muitos outros méritos) a enorme vantagem de ser, pelo contrário, uma pessoa tecnicamente bem preparada e intelectualmente muito mais honesta e séria, frontal e não obcecada pelo poder a qualquer custo.

Por António Silva Carvalho, in SOL.pt

Eleições: O embuste socialista

António Costa nunca governou a pensar no futuro do país. Governou sempre a pensar na sobrevivência do governo e na compra de votos.

Esta semana a apreciação dos programas eleitorais centra-se nas propostas que o PS apresenta, sendo inevitável que inclua também uma apreciação da governação socialista dos últimos 6 anos, uma vez que é a avaliação que vai ser feita pelos eleitores no dia 30 de Janeiro.

E é por aqui que entre o embuste, a tentativa de enganar um grupo de pessoas, fazendo-as acreditar que algo falso é real. Os últimos 25 anos de socialismo foram um grande embuste. O embuste socialista tem várias dimensões, e esta variedade mostra até onde se pode ir para enganar os portugueses. Destaco apenas três:

1 – O primeiro embuste é o da bancarrota de 2011, a terceira a que o PS esteve associado em 30 anos e mais um pântano socialista. Não há um pingo de vergonha ou de humildade nos meios socialistas. Ainda hoje continuam a negar qualquer responsabilidade por terem colocado o país à beira da falência e apontam o dedo para a direita sempre que falam da “troika”, como se não tivessem nada a ver com o assunto.

Até hoje não há um pedido de desculpa aos portugueses pelas dificuldades que lhes criaram, pelos sonhos que destruíram, por os terem empurrado para fora do país. Não há qualquer assumir de culpa porque um socialista nunca faz nada de errado. É incrível o grau de oportunismo e de sem vergonha dos socialistas portugueses neste assunto e basta navegar nas redes sociais para lermos que os seus militantes continuam a negar que tenha sido o PS a trazer a troika e fazem tudo há anos para que a mentira de que o PS não é responsável se torne verdade, assim alimentando o embuste.

Veja-se que só 10 anos após todo o mal e toda a desgraça que os socialistas provocaram é que o ex-Ministro das Finanças Teixeira dos Santos vem dizer que a responsabilidade é do Primeiro-Ministro Sócrates. Mas fica-se por aqui, porque esconde a sua própria incompetência por ter apostado no crescimento do consumo de bens importados como fonte de crescimento e desvalorizado o desequilíbrio económico externo, seguindo a visão Constâncio. Só os outros é que são incompetentes. É também uma boa imagem do embuste socialista.

Veja-se que só 10 anos após todo o mal e toda a desgraça que os socialistas provocaram é que o ex-Ministro das Finanças Teixeira dos Santos vem dizer que a responsabilidade é do Primeiro-Ministro Sócrates. Mas fica-se por aqui, porque esconde a sua própria incompetência por ter apostado no crescimento do consumo de bens importados como fonte de crescimento e desvalorizado o desequilíbrio económico externo, seguindo a visão Constâncio.

Mas há muitos mais. Nomes como António Costa, Augusto Santos Silva, Ana Catarina Mendes, Fernando Medina, Vieira da Silva, Ferro Rodrigues, Matos Fernandes, Ana Paula Vitorino, Pedro Nuno Santos ou João Galamba, estiveram nos governos de Sócrates ou apoiaram-nos incondicionalmente, mesmo quando já se sabia das ilegalidades e da amoralidade do ex-primeiro-ministro. Ao longo de anos compactuaram com gente corrupta e defenderam-na publicamente, sem qualquer pingo de vergonha, colocando sempre o seu interesse e o dos socialistas à frente do interesse de Portugal e dos portugueses. Porquê? Porque vale tudo para defender a carreira política e o partido, mesmo as mais vis mentiras?

Até hoje não ouvimos nem um momento de arrependimento por parte de nenhum dirigente socialista. Costa continua a falar do passado como se o PS não tivesse qualquer responsabilidade na bancarrota e na situação difícil em que deixou centenas de milhares de famílias portuguesas. É o oportunismo mais reles da política portuguesa

2 – O segundo embuste é o da corrupção e do compadrio. Votar socialista é votar na corrupção e é isso que muitos portugueses apoiam. Em Portugal, gostamos de tal maneira de corrupção que até a promovemos. Depois de ter um primeiro-ministro corrupto que colocou o país na bancarrota, os portugueses voltaram a eleger o PS e, no próximo dia 30, há um risco real de que isso volte a acontecer.

Nomes como José Sócrates, Manuel Pinho, Eduardo Cabrita, Paulo Campos, António Mendonça, Amando Vara, Mário Lino, Carlos César, Paulo Pedroso, Azeredo Lopes e outros de menor “craveira”, todos com problemas na justiça ou com acusações de compadrio, levam os portugueses a apoiar entusiasticamente o PS.

No último congresso socialista, a revista Visão noticiava que um sexto da respectiva mesa estava a ser investigado pela justiça.

Sócrates comprava os seus próprios livros, pagava a quem lhe fizesse a tese de Mestrado, pagava a pessoas para andarem a defendê-lo e a difamar outros nas redes sociais, transportava fisicamente grandes quantias de dinheiro com o qual “alimentava” mulheres, filhos e namoradas. A completa imoralidade que os socialistas apoiaram energicamente e ainda hoje continuam a justificar. Uns corrompem e compram votos, outros apoiam incondicionalmente. É também este o embuste socialista.

Sendo inúmeros os socialistas que estão a ser investigados pela justiça, não deixa de ser caricato que António Costa venha defender políticas de combate à corrupção. Se queria combater a corrupção, o melhor serviço que prestaria ao país seria fazer uma limpeza da gente corrupta que abunda no PS. O que ele fez foi o contrário: protegeu os corruptos que existem no PS, como se viu no caso Casa Pia. Ou colocou nas suas listas assassinos das FP25 que foram condenados e nunca cumpriram a sua pena, como António Manuel Baptista Dias, condenado a 15 anos de prisão, eleito para a Assembleia Municipal de Setúbal e galardoado pelo município com duas medalhas de honra da cidade, na classe Ciência e Tecnologia e na classe Cultura, ou Francisco Manuel Jesus Soares, também condenado a 15 anos de prisão, e candidato a vereador pelo PS à Câmara Municipal da Marinha Grande. Hoje, socialismo em Portugal é sinónimo de corrupção e de compadrio.

O PS subsiste porque é uma máquina de propaganda, bem oleada, financiada pelos impostos dos portugueses, controlando empresas de sondagem e comunicação social, e manipulando o Estado, onde o socialismo substituiu o regime salazarista na colocação de amigos no funcionalismo público. Afinal, mais um sinal de corrupção, sob a forma de compadrio, que os eleitores promovem quando colocam os socialistas no poder.

Os números demonstram-no. Nos últimos 6 anos foram contratados mais 71 mil funcionários públicos. Houve algum benefício para os portugueses em termos de serviços públicos que os restantes 650 mil funcionários não pudessem satisfazer? Não. Então porque é que o número de funcionários públicos cresceu? Porque é a forma que o governo tenta garantir a reeleição.

O embuste como programa político

Falar do programa de um partido que está há 6 anos no poder, e que esteve 20 anos dos últimos 25, pode cingir-se ao que é que propõe de novo e porque é que não o fez enquanto governo. O programa é extenso, beneficiando de contributos de duas dezenas de gabinetes de ministros, e o PS vai gastar como um autêntico capitalista para o promover, tendo orçamentados quase 2,5 milhões de euros. Para um partido que estava falido há meia dúzia de anos, é caso para perguntar de onde vem o dinheiro, sendo que uma parte terá certamente sido tirado aos portugueses através de impostos.

O PS subsiste porque é uma máquina de propaganda, bem oleada, financiada pelos impostos dos portugueses, controlando empresas de sondagem e comunicação social, e manipulando o Estado, onde o socialismo substituiu o regime salazarista na colocação de amigos no funcionalismo público. Afinal, mais um sinal de corrupção, sob a forma de compadrio, que os eleitores promovem quando colocam os socialistas no poder.

3 – Mas o conteúdo do programa não deixa dúvidas e ilustra o terceiro embuste: o fraco desenvolvimento do país. Em 2015, para chegar ao poder, António Costa enganou os eleitores e associou-se a partidos comunistas que defendem ditaduras que seguem uma via para o desenvolvimento como a que está a ser aplicada na Venezuela, em Cuba ou na Coreia do Norte. Para Costa, vale tudo para chegar ao poder. É esta a via que os portugueses querem seguir? A acreditar em alguns jornais nacionais e em nos cromos que promovem petições, sim.

Um sinal claro do atraso de Portugal é haver 6 partidos socialistas no Parlamento e mais alguns a concorrerem a eleições. No total, o socialismo nas suas diversas vertentes recebeu 61% dos votos válidos em 2019, um sinal de que a via da Venezuela tem muitos adeptos no nosso país.

Não há outro país do mundo civilizado onde isto suceda. Pode discutir-se se é por causa de haver tantos partidos socialistas que o país está atrasado ou se é por causa do atraso que há tantos partidos socialistas, mas não há dúvida que os dois fenómenos estão associados.

Num país desenvolvido, ser socialista é uma aberração. No Norte da Europa não há sequer partidos socialistas e no Sul, vários já desapareceram. Em França, os socialistas perderam relevância e em Itália, ao contrário de Portugal, acabaram após os escândalos de corrupção do seu líder e primeiro-ministro, Bettino Craxi. Apenas mais um socialista a contas com a justiça.

Os últimos 20 anos de políticas socialistas mostram uma realidade de estagnação económica e de indolência social, sustentado por causas radicais caducas e por pseudo-mudanças sociais. É com esta estagnação e indolência que os socialistas usam o argumento da estabilidade para tentar “adormecer” os portugueses e esconder a sua incompetência, reforçando o embuste.

A estagnação económica é um exemplo evidente, como vimos esta semana no debate entre os partidos com representação parlamentar. A resposta de Costa à estagnação económica – de que ele é um dos responsáveis pois esteve em todos os governos socialistas desde 2000 – de que “a História explica isso” não é só a de uma pessoa que não tem explicação para apresentar, é também a de um maníaco do embuste que é esconder a realidade.

Costa é um mentiroso nato que nunca fez mais nada na vida senão política. Os exemplos das suas mentiras são muitos, desde a nacionalização da TAP por teimosia ideológica até ao fim das PPPs com os hospitais privados, o falso fim de austeridade com o equilíbrio orçamental alcançado em 2017 – para tentar esquecer a vergonha da bancarrota de 2011 – feito de uma forma errada, pois baseou-se no corte brutal de investimento público a partir de 2016 (que durante a pandemia bem sentimos que foi necessário), ou casos como o arrastamento da ala pediátrica do Hospital de São João, a mentira continuada sobre a irrelevância da carga fiscal sobre o preços dos combustíveis ou o seu “sair de cena” sempre que algo corre mal para “queimar” ministros, como na falta de estratégia no combate à pandemia, na quebra abrupta nas consultas e nas cirurgias prestadas pelo SNS ou até nos incêndios de 2017.

O programa que o PS apresenta (com a ridícula personalização “António Costa 2022”) não traz nada de novo e mantém os erros das últimas décadas. Os socialistas, que com a ajuda de Marcelo eliminaram o espírito reformista que havia em Portugal, continuam a aposta num crescimento económico medíocre baseado no consumo como factor principal, o que é um contrassenso dado o nível de endividamento que a sociedade portuguesa tem e dado a perda de poder de compra que se anuncia pelo previsível crescimento da inflação e das taxas de juro.

A ambição socialista, segundo o programa, é crescer 0,5% acima da média da UE27, o que significa que Portugal vai continuar a ser ultrapassado pelos países menos desenvolvidos e reforçar a sua posição na cauda da UE.

A verdadeira História que Costa esconde sobre a estagnação económica é que após 2016 o governo PS teve condições únicas que desperdiçou em nome do sectarismo ideológico.

O crescimento económico que ocorreu serviu apenas para repor o nível de actividade económica que existia antes da crise. Só em 2018 é que a economia portuguesa atingiu o nível de 2008. Este é o mesmo processo que se vai observar com o crescimento em 2022 e em 2023, em que a economia estará apenas a “repor” o que perdeu em 2020.

As reformas estruturais implementadas até 2015, que tornaram a economia portuguesa muito mais flexível aos desafios dos mercados internacionais e permitiram a canalização de recursos para os sectores mais produtivos, e o enquadramento externo muito vantajoso de que beneficiou a partir de 2016 – taxas de juro baixas via Banco Central Europeu e o crescimento dos mercados da UE a um ritmo nove vezes superior ao que se verificou entre 2012 e 2014 (quando os mercados de exportação da economia portuguesa cresceram a uma média anual de 0,25%) – foram desaproveitadas quando o governo decidiu dar incentivos às empresas portuguesas para se voltarem para o mercado doméstico.

O crescimento económico que ocorreu serviu apenas para repor o nível de actividade económica que existia antes da crise. Só em 2018 é que a economia portuguesa atingiu o nível de 2008. Este é o mesmo processo que se vai observar com o crescimento em 2022 e em 2023, em que a economia estará apenas a “repor” o que perdeu em 2020.

Em consequência da política económica errada, as exportações ficaram aquém do seu potencial e o número de novas empresas exportadoras diminuiu para metade. Na última década, os anos 2016-18 foram únicos em termos de bonança económica, mas o país não os soube aproveitar para criar as condições para um crescimento sustentável pois voltou a virar-se para dentro vivendo com a miragem dos fundos europeus. A maior evidência do falhanço socialista é que após 35 anos de fundos europeus Portugal continua a ser um país de coesão.

Costa nunca governou a pensar no futuro do país. Governou sempre a pensar na sobrevivência do governo e na compra de votos, seja no Parlamento, seja em eleições, repetindo os erros dos seus antecessores socialistas e contribuindo para a hipoteca do futuro dos portugueses. Depois do pântano de Guterres e das trafulhices de Sócrates, tivemos o embuste de Costa.

Apesar da extensão e da pouca originalidade do programa socialista, ainda persistem dúvidas sobre assuntos que estiveram ausentes da campanha como a regionalização, em que o PS propõe um referendo em 2024, quando espera que a regionalização encapotada que começou a fazer em conluio com o PSD esteja terminada, ou a transferência de poderes de Portugal para Bruxelas, assunto sobre o qual o PS nada diz. Como Costa também nada diz sobre o que vai fazer se ganhar as eleições sem maioria absoluta. É a opacidade característica do embuste.

O que as políticas socialistas tornaram evidente é que para Portugal recuperar do atraso é necessário que o socialismo deixe de ser uma barreira ao desenvolvimento. Por tudo isto, uma condição necessária para Portugal se desenvolver é o socialismo estar longe do poder durante as próximas duas décadas. Os portugueses merecem-no.

Por Ricardo Pinheiro Alves, in ECO

O Roubo Legitimado https://sol.sapo.pt/artigo/733886/o-roubo-legitimado

José Sócrates é o retrato de Dorian Gray do PS /premium

José Sócrates é o retrato de Dorian Gray da actual liderança do Partido Socialista: a imagem que, convenientemente afastada, regista os traços de degradação de um grupo político.

Passou uma semana desde que o juiz Ivo Rosa leu ao país a sua decisão sobre a Operação Marquês. Pode-se dizer duas coisas. Primeiro, que o país que fala e comenta não gostou da decisão do juiz. Segundo, que a maioria do país que fala e comenta continua sem perceber – ou sem querer perceber — o que está em causa.

O primeiro erro é a tese, suscitada pela prestação do juiz Ivo Rosa, de que o problema está na justiça. Sim, talvez seja difícil acusar, julgar e condenar corruptos em Portugal. Mas as leis que criam essas dificuldades ou que permitem a alguns juízes inventar essas dificuldades não foram feitas pelos tribunais. O juiz Ivo Rosa é uma consequência, não é a causa. Não se esqueçam dos legisladores, isto é, dos políticos que neste regime governam, governaram e querem governar. Não, a culpa não é principalmente do juiz.

O segundo erro é endossar José Sócrates ao eleitorado português. A responsabilidade seria de quem votou nele. É assim? Não é assim. Os eleitores portugueses deram-lhe uma maioria absoluta em 2005 e ainda uma maioria relativa em 2009. Mas os eleitores não elegeram simplesmente um corrupto. Os eleitores do Partido Socialista votaram no candidato a primeiro-ministro que o partido lhes ofereceu como alternativa ao candidato do partido contrário. Teriam de votar nele, independentemente do que pensassem dele, se não quisessem deixar eleger o seu adversário. Dir-me-ão: então a culpa cabe aos militantes socialistas, que em 2004 elegeram José Sócrates secretário-geral. É não saber como as coisas funcionam. Os militantes adoptaram o candidato que a maioria dos dirigentes do partido lhes recomendou. José Sócrates não foi simplesmente elevado ao governo por um eleitorado inorgânico, mas por um partido político. E dentro desse partido, não foi escolhido por uma sublevação das bases, mas pelo grupo que dirigia o partido. Não, a culpa não é de todos nós.

O terceiro erro é presumir que o que está em causa é a honestidade ou o “modo de vida” de um indivíduo que por acaso foi primeiro-ministro. Se fosse isso, a sua acusação, julgamento e condenação em tribunal poderiam esgotar a questão. Mas não é só uma pessoa que está em causa. José Sócrates fazia parte do grupo político que chegou ao governo em 1995 com António Guterres, de quem foi ministro-adjunto. Os crimes de que foi acusado pelo Ministério Público não respeitam apenas à prática de actos ilícitos visando o seu enriquecimento pessoal, mas à montagem de uma rede de influência com o fim de aumentar o poder do governo sobre a economia e a sociedade. Já o disse: é possível que os que com ele colaboravam ignorassem o aproveitamento pessoal que o antigo primeiro-ministro fez dessa rede. É impossível, porém, que não tivessem dado pelas promiscuidades, pelas cumplicidades, e pelos abusos do poder. Seria preciso andar muito distraído. Não, a culpa não é só de José Sócrates.

O quarto erro é não ouvir o próprio José Sócrates. A maioria das pessoas ouviu-o, mas apenas para constatar como foi infeliz ao festejar uma decisão instrutória que, em relação à sua corrupção, a deu como provada, e não apenas prescrita. Mas José Sócrates disse mais coisas, em artigos, em entrevistas e num novo livro. Sócrates poderia ter alegado, como tantos acusados, que a justiça se enganou. Mas não. Para Sócrates, a justiça não se enganou. A justiça terá feito exactamente o que lhe mandaram: destruir, através de uma acusação falsa, um político que, como comentador, incomodava o governo do PSD em 2014, e que, como candidato, teria derrotado Marcelo Rebelo de Sousa em 2016. “Tudo isto foi intencional, planejado e devidamente arquitectado”, como mandou dizer à esquerda do Brasil. Para Sócrates, a justiça em Portugal é este instrumento que um governo ou um candidato podem usar: “a arma branca da golpada política”, segundo a define no livro.

É verdade que, a p. 67 do mesmo livro, explica que conspirações para “alterar uma lei” são impossíveis, pelo “número de pessoas que teriam de ser envolvidas para fazer isso”. Para prender um ex-primeiro-ministro, porém, são possíveis. É quase comovedor como não se dá conta da contradição. Daí que talvez seja tentador desprezar esta teoria como a invenção desesperada de um mitómano. Mas é mais do que isso. Porque a versão socrática da Operação Marquês não é original. É apenas uma reedição da “teoria da cabala” com que a direcção do Partido Socialista reagiu às detenções do “caso Casa Pia” em Maio de 2003 (que o próprio Sócrates lembra a p. 72 do livro). Numa e noutra teoria, temos o mesmo sentimento de cerco, a mesma propensão para conceber a justiça como um instrumento partidário, o mesmo cinismo em relação às instituições. O simples efeito de choque da investigação judicial não chega para explicar a “teoria da cabala”. O grupo que dirige o  PS e governa o país há mais de vinte anos não leva a sério o regime que o seu partido construiu nem o Estado que governa. Porquê?

Poderíamos começar pela sua história: a história de uma geração socialista que começou a carreira durante a década de governo de Cavaco Silva. José Sócrates foi eleito deputado em 1987, aquando da primeira maioria absoluta do PSD; António Costa em 1991, aquando da segunda. Pior: o “socialismo”, que tinham como bandeira, parecia fora de moda, depois de Thatcher, de Reagan e da queda do muro em Berlim. Provavelmente, terão receado nunca sair da oposição. Mais provavelmente ainda, quando, em 1995, chegaram ao governo, estavam decididos a fazer tudo para ficar. Por entre uma nuvem de tinta sobre educação, tecnologia e até “ética republicana”, reconstruíram-se como uma máquina de poder. Ocuparam o Estado, alimentaram clientelas eleitorais, puseram a seu favor os poderes económicos. A partir daí, ressentiram cada contrariedade, cada caso judicial, cada escândalo de imprensa e até cada ruptura financeira (em 2011, por exemplo), não como erros ou azares, mas como golpadas dos seus adversários, propiciadas pelo facto de o PS ainda não dominar tudo. Defenderem-se tomando conta de cada vez mais coisas: da justiça, da comunicação social. Em 2009, o procurador Lopes da Mota lembrou aos magistrados que investigavam o caso Freeport que não era boa ideia incomodar governantes socialistas; no mesmo ano, José Sócrates pôs a PT a tentar adquirir a TVI para calar uma jornalista. Quem se metia com o PS, levava.

Nisto, Sócrates e os seus camaradas fazem lembrar o presidente americano Richard Nixon. Nixon convenceu-se de que os Democratas tinham recorrido a golpes baixos contra ele. Quando chegou a sua vez de governar, veio decidido a jogar tão sujamente como imaginava que os seus adversários tinham feito. Um conspirador precisa de pensar que todos conspiram, tal como a um corrupto convém acreditar que todos são corruptos. É assim que se absolvem a si próprios: quem faz o que toda a gente faz, não tem culpa. E é por isso que, quando são confrontados com uma acusação judicial, a única razão que lhes ocorre para a explicar é que se trata de mais uma golpada dos seus inimigos.

José Sócrates é o retrato de Dorian Gray da actual liderança do Partido Socialista: a imagem que, convenientemente afastada, regista os traços de degradação de um grupo político que, graças ao poder, se passeia como eternamente novo e hábil. Sócrates parece, agora, sentir-se traído pelos seus antigos correligionários (a p. 113, dá afinal a entender que, ao lado da direita naturalmente fascista, também a actual “direcção” do PS estaria interessada na “remoção” do “único líder que teve uma maioria absoluta”). Mas se deixaram cair Sócrates, não renunciaram ao socratismo. É a mesma ocupação do Estado, o mesmo controle da banca e das empresas, o mesmo constrangimento da justiça, a mesma hegemonia nas televisões, e a mesma intolerância para quem pensa de outra maneira, agora exercida, em subcontrato, pela extrema esquerda, que se tornou a Guarda Fiscal ideológica do regime socialista. Nunca souberam governar de outra maneira, porque nunca pensaram que a democracia portuguesa fosse outra coisa senão uma disputa suja do poder, destinada a ser ganha por quem tenha mais habilidade e menos escrúpulos.  As leis e as instituições são apenas o véu de conveniência com que cobrem o exercício implacável do poder. Que fazer, quando é o próprio padre que não acredita na missa? É assim que os regimes chegam ao fim.

Mudem-se os juízes in, https://sol.sapo.pt/artigo/730860/mudem-se-os-juizes

O inocente do Sócrates in, https://sol.sapo.pt/artigo/730993/o-inocente-socrates

A Máscara , in https://sol.sapo.pt/artigo/729632/a-mascara

Lisboa pode ser Portugal 

Os partidos da direita não parecem por vezes compreender ou conseguir explicar o poder que o PS exerce em Portugal. Mas é disso que depende uma viragem no país.

05 mar 2021, 01:519

Carlos Moedas não vai apenas concorrer à Câmara de Lisboa. Isso já seria importante para a cidade, que bem precisa de um melhor governo e de horizontes para além do corrente “circo de aparências e de vaidades”. Mas Carlos Moedas vai fazer mais: vai enfrentar um dos grandes baluartes do poder socialista, uma Câmara Municipal há 14 anos dominada pelo PS, com um orçamento superior a um bilião de euros e 13 000 funcionários, mas que mesmo assim falta a todas as promessas (como as 6000 novas casas, ou os 14 novos centros de saúde). Se tiver sucesso, Carlos Moedas poderá provar uma coisa em que até agora pouca gente acreditou: que uma mudança em Portugal é possível sem uma mudança prévia da política do Banco Central Europeu — ou seja, que Portugal, apesar da sua dependência financeira, ainda tem independência política. Lisboa não é Portugal, mas Portugal vai ter os olhos em Lisboa nestas eleições autárquicas. É que se for possível libertar Lisboa da mão-morta socialista, talvez também seja possível libertar Portugal sem esperar por mais uma bancarrota. É tempo, como ontem disse Carlos Moedas, de dar aos portugueses – os lisboetas serão os primeiros — a “responsabilidade” de “escolher entre mais do mesmo ou escolher um recomeço”.

Contra a probabilidade de uma mudança em Portugal, é costume invocar as percentagens do PS nas sondagens de opinião, quando não a quantidade de dinheiro nórdico que está para vir. Esta suposta análise expressa o grande problema que existe em Portugal do ponto de vista de uma alternativa: a incapacidade de pensar na política a não ser como um derivado de outros factores, sobre os quais os políticos não teriam influência, como seja o financiamento externo do Estado. Mas não deveria a actividade política consistir precisamente em mudar o sentido da opinião nas sondagens, e não em conformar-se com ele? Não faria mais sentido encarar as sondagens como Carlos Moedas encara os anteriores resultados do PSD em Lisboa: “números do passado”? E não deveria a oposição ao actual governo olhar também para a garantia europeia de financiamento como mais uma vantagem para a alternância, uma vez que sossegue as classes dependentes do Estado em relação a ajustamentos financeiros como aqueles a que a direita foi obrigada em 2002-2004 e em 2011-2014, quando revezou os socialistas no governo? Desta vez, funcionários e pensionistas não têm de temer uma alternância de governo. Têm apenas, como os restantes portugueses, a começar pelos mais de 50% de abstencionistas, de perceber duas coisas: que essa alternância é possível, e que será vantajosa para o país.

Sim, a primeira condição de uma alternância é torna-la credível. Tirar ao PS e à maioria de esquerda algumas das grandes cidades do país pode ser uma forma de ganhar essa credibilidade. Fazê-lo com base num grande movimento agregador de diversos partidos e personalidades da sociedade civil, como pretende a candidatura de Carlos Moedas em Lisboa, será também um meio de demonstrar que as coisas serão diferentes. Mas há uma segunda condição para essa alternância: tornar muito claro que o principal problema do país, a causa do seu empobrecimento desde há vinte anos, do definhar da sua democracia, e do colapso dos seus serviços públicos, está no poder do PS, no modo como esse poder é intrinsecamente incompatível com “reformas estruturais”, com a liberdade dos cidadãos e com a eficiência dos serviços públicos.

É isso, infelizmente, que os partidos da direita, promotores necessários de uma alternativa, não têm sempre conseguido fazer. Nem os partidos mais antigos, como o PSD e o CDS (este sobretudo durante o tempo da anterior direcção), nem os partidos mais recentes, como a Iniciativa Liberal ou o Chega. Nem uns nem outros parecem por vezes compreender ou conseguir explicar o poder que o PS exerce em Portugal. Mas é disso que depende uma viragem no país.

O PSD e o CDS dão frequentemente a ideia de que estão à espera de que o Partido Socialista não seja o Partido Socialista. Mas o PS é mesmo socialista, e não só de nome: acredita no Estado e no poder político, e não nas iniciativas dos cidadãos e na autonomia da sociedade civil. Mais do que isso, o PS tem um projecto de poder que assenta no domínio do Estado pelos socialistas, e no domínio da sociedade pelo Estado. Sim, o PS resistiu ao PCP em 1975, e até governou, a seguir, com o CDS e depois com o PSD. Mas desde 1976, o PS só aceitou mudanças quando forçado por bancarrotas (como nos acordos com o FMI de 1978 e 1983) ou pressionado por maiorias de direita (como nas revisões constitucionais de 1982 e 1989). Entre 1985 e 1995, não apoiou nenhuma das grandes reformas da governação de Cavaco Silva. Sem a aversão de Mário Soares ao general Eanes, teria feito a “geringonça” logo em 1987. Se dependesse do PS, ainda haveria um só canal de televisão, naturalmente do Estado. É tempo de o PSD e o CDS compreenderem e fazerem compreender ao país que não se pode contar com o PS para tornar a sociedade portuguesa mais livre nem a economia portuguesa mais competitiva. Não está na natureza do PS.

Tão desanimadora como esta estranha expectativa do PSD e em menor medida do actual CDS em relação ao PS, é a incapacidade ainda mais bizarra da Iniciativa Liberal e do Chega de reconhecerem o PS no meio das denúncias que fazem de tudo e mais alguma coisa. Para a IL e o Chega, todos os outros partidos são “socialistas” ou do “sistema”. Mas o “sistema” que está estabelecido em Portugal é o do PS. O PSD e o CDS têm sido, desde 1976, os protagonistas do reformismo liberal que houve no país. É mentira que a AD, os governos de Cavaco Silva ou o governo de Passos Coelho tenham sido “socialistas”. Tratá-los como socialistas é uma forma de cobardia intelectual, porque é a maneira de não ver o elefante na sala: o poder socialista que submete o país desde 1995. Faz lembrar aqueles sábios que atribuem os problemas do país à “cultura” ou à “maneira de ser dos portugueses”, isto é, a tudo e a nada. Temos mesmo de ter um governo tão medíocre? Temos mesmo de ceder à importação das últimas modas da extrema-esquerda universitária americana? Temos mesmo de ser os pedintes da Europa? Se todos são “socialistas”, se todos são o “sistema”, como ensinam a IL e o Chega, a resposta é sim: não há alternativa. Nesse caso, para que servem a IL e o Chega? Será que, no fundo, os seus verdadeiros inimigos são o PSD e o CDS, com quem pensam que devem competir eleitoralmente? Nesse caso, quem é que, na prática, ajuda os “socialistas”, e quem é que, objectivamente, faz parte do “sistema”? O país não precisa de lições gritadas de nacionalismo nem de cursinhos básicos de liberalismo. Precisa de uma alternativa ao poder socialista. É tempo de a IL e o Chega demonstrarem que querem fazer parte da solução e não do problema.

Posto isto, percebe-se as dificuldades que os vários partidos à direita têm em enfrentar o PS. O PS não é um adversário fácil. Tem enorme poder, e exerce-o implacavelmente. Quem não está com o PS não aparece, e tem “problemas”. O PS joga também, como jogou sempre, com todos os equívocos. Mas a orientação fundamental do PS é clara. Todas as suas supostas “grandes paixões” dos últimos anos – educação, tecnologia – apontam para o Estado. Na União Europeia, viu sempre uma estrutura de apoio financeiro internacional do Estado, nunca um mercado para os cidadãos e as empresas portuguesas competirem. Não, o PS não rejeita a iniciativa privada, mas olha para ela como um compadre do Estado. A velha conversa do PCP e do BE sobre as “políticas de direita” do PS não devem distrair ninguém deste simples facto: o PS faz a política de esquerda que, desde 1976, é possível em Portugal. Tem todo o direito de o fazer. A direita é que tem obrigação de não se enganar.

O PS, pela sua ideologia e pelo seu projecto de poder, condena o país ao declínio, e agora, pela sua condescendência com a cancel culture de extrema-esquerda, também à degradação da memória e da cultura nacionais. Que restará do país com mais 10 anos de poder do PS? Estará talvez a disputar o último lugar com a Bulgária na hierarquia de riqueza da UE, e provavelmente já sem ideia da sua própria história, apagada segundo mandam as modas importadas dos EUA. Mas o país talvez já tenha ouvido isto. O que o país precisa agora de ouvir é que outro governo é possível, e que não consistirá simplesmente no esforço para fazer pagar por todos mais uma época de erros do PS. A direita portuguesa, neste século XXI, ficou marcada pelas duas experiências de ajustamento a que foi obrigada para evitar as bancarrotas da governação socialista. A política financeira da UE dá alguma garantia de que talvez não esteja condenada a passar outra vez pelo mesmo. Neste momento, a questão está em aproveitar os recursos e as oportunidades. Trata-se, portanto, de provar que, à direita do PS, há uma melhor visão para o país, e equipas mais capazes. Não fiquem à espera do PS, como às vezes parece ser o caso  do PSD e do CDS, aparentemente esmagados pelas suas experiências históricas, nem nos digam que o problema é um “socialismo” ou um “sistema” sem rosto nem nome, como fazem o Chega e a IL, do alto das suas enormes indigestões ideológicas.

“Lisboa pode e deve ser muito mais”, diz Carlos Moedas. O país também. Precisa de um governo que “invista nas pessoas”, isto é, que acredite na capacidade dos indivíduos, das famílias e das comunidades para, com os devidos recursos, encontrarem as melhores soluções. Para isso, vale a pena “unir o centro-direita em Portugal”, como pretende Carlos Moedas. Mas isso só será possível se todos, acima dos seus pontos de vista e até dos seus interesses, reconhecerem que o problema é o PS, e que por isso não se pode contar com o PS. É possível governar sem o PS? Vale a pena fazer essa experiência? Os Açores são uma prova importante. Lisboa pode ser tão ou ainda mais importante.  Carlos Moedas, o candidato indicado pelo PSD e apoiado pelo CDS, é o melhor presidente que a vereação municipal de Lisboa pode ter. O país não é Lisboa. Mas pode começar a mudar por Lisboa.

Bem vindos ao quinto país mais confinado do Mundo. Para ouvir em https://observador.pt/programas/contra-corrente/bem-vindos-ao-quinto-pais-mais-confinado-do-mundo/

O Racista que veio do Senegal, in https://sol.sapo.pt/artigo/725869/o-racista-que-veio-do-senegal

Um Governo Inocente, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/723540/um-governo-inocente

O fanatismo ideológico de Marta Temido (e de Costa) custou-nos milhares de vidas

Temido, Costa, parte do PS, o BE e o PCP quiseram montar uma bravata ideológica com a pandemia, quiseram mostrar que o SNS era suficiente e que não precisávamos do sector social e dos “privados” (esse vil inimigo interno) na frente covid e na frente não covid. O resultado está à vista: um excesso de mortalidade covid e não covid que nos humilha como país, que nos coloca no topo do excesso de mortalidade total desde março. A culpa não é só da ministra, é da ideologia geringonça que andou anos a diabolizar privados, misericórdias, PPP, até a ADSE

O desprezo pelos colégios privados deste governo é ridículo, medíocre e revelador de cabeças que nivelam tudo por baixo. É comédia, o teatro de revista da mediocridade nacional. Mas o desprezo deste governo pelos hospitais privados é mais grave, é outra coisa, é uma tragédia séria que nos custou milhares de vidas nesta pandemia.

Entre abril e o Natal, não tivemos uma onda covid, os hospitais do SNS não foram esmagados por doentes covid durante esse período. No entanto, tivemos durante este mesmíssimo período um excesso de mortalidade não covid impressionante. Porquê? Porque a ministra foi incapaz de transferir milhares de operações e milhões de consultas para o sector privado e para o sector social. Porque a pandemia apanhou Temido, Costa e toda a esquerda em contramão. Passaram cinco ou seis anos a dizer que os privados são péssimos e que as PPP são péssimas; isto apesar de os autarcas de esquerda servidos pelas PPP (Loures e Vila Franca) apreciarem sobremaneira as ditas PPP. Costa e Temido quiseram navegar na onda do “milagre português” e da “resiliência do SNS”, duas fraudes sem sentido, porque desde março que temos um excesso de mortalidade não covid revelador do fracasso absoluto da gestão deste governo. Quem o diz é Alexandre Lourenço, presidente da Associação de Administradores Hospitalares.

O problema aqui não é a sobrecarga de janeiro, covid e não covid. Não estou a falar de janeiro, um mês infernal. Estou a falar do período dramático e silenciado entre abril e o Natal. É importante falarmos disto por duas razões. Primeira: não podemos repetir esse silenciamento mediático, político e médico em 2021; quando esta vaga covid passar, os doentes não covid não podem permanecer esquecidos como em 2020. Segunda: alguém tem de ser politicamente responsável pelo excesso de mortalidade não covid, que é um embaraço para o país. Durante a campanha eleitoral, reparei que este tema é tabu para toda a esquerda. Matias e Ana Gomes diziam que não se podia falar deste tema, que devíamos pedir desculpa à ministra por salientar o assunto. Perdão? Então o excesso de mortalidade de Portugal em 2020 chegou a ter 75% de óbitos não covid antes do inverno, e não se pode falar do assunto? A esquerda inteira não quer falar do assunto porque não quer admitir que é necessário um acordo com os privados e com o sector social. Ou seja, Temido, Costa, parte do PS, o BE e o PCP quiseram montar uma bravata ideológica com a pandemia, quiseram mostrar que o SNS era suficiente e que não precisávamos do sector social e dos “privados” (esse vil inimigo interno) na frente covid e na frente não covid. O resultado está à vista: um excesso de mortalidade covid e não covid que nos humilha como país, que nos coloca no topo do excesso de mortalidade total desde março. A culpa não é só da ministra, é da ideologia geringonça que andou anos a diabolizar privados, misericórdias, PPP, até a ADSE. Mesmo em tempo de pandemia, a esquerda portuguesa ficou refém de ideologias do século passado. Não, não interessa se o serviço público é prestado num hospital privado ou estatal, o que interessa é que a cirurgia seja feita.

Agora, da mesma forma que recusou pedir ajuda aos privados portugueses, o governo português resiste ao pedido de ajuda europeu. Sobre isto há várias coisas a dizer. Primeira, é este o espírito europeu; a minha família de Coimbra acolheu três jovens austríacos a seguir à II Guerra Mundial numa campanha nacional e europeia liderada pela Igreja católica. Segunda, convém recusar o vírus do nacionalismo. Sentimo-nos envergonhados por pedir ajuda a outros países? Não é isso o tal nacionalismo que tanto criticamos nos populismos? O mal está feito, os erros foram cometidos ao longo de 2020, agora há que salvar vidas, covid e não covid.

Prof. Marcelo, esses 60% serviram para quê? 

José Manuel Fernandes, ao final do dia, duas vezes por semana.

Há horas em que sinto vergonha, outras puro nojo, muitas em que me revolto. A indignação deixo para as redes sociais. Mas já não me consola saber como são tantos e tantos os que lutam todos os dias tantas e tantas horas para que a tragédia que vivemos não seja ainda maior. Eles foram traídos, estão a ser traídos, assim como todos os que não se resignam, todos os que não se rendem à chantagem do “fizemos o que era possível”, “fizemos o nosso melhor”. É mentira, e mesmo que fosse verdade não chegava.

O país, o Governo, falharam, e não falharam em Dezembro, nem sequer começaram a falhar no Verão quando não preparam o Outono e o Inverno: começaram a falhar logo em Março. Por arrogância, cálculo político e falta de visão.

Nunca houve um “milagre português”: houve sorte e medo, um povo que se fechou em casa e um Governo que foi atrás. Criou-se um “gabinete de crise”? Não. O primeiro ministro rodeou-se de uma equipa de cientistas competentes? Não. Em vez disso inventou uma paródia chamada “reuniões do Infarmed”. Mobilizaram-se todos os recursos disponíveis? Não. A ministra da Saúde resistiu meses a fio a conversar com o sector privado, alimentando uma guerra estúpida e desgastante. Criaram-se mecanismos eficazes para informar a população? Não. A preocupação foi sempre a propaganda e mais depressa se escondia informação do que se promovia a transparência. Agiu-se com rapidez para acudir a uma economia obrigada a parar? Não. Todas as comparações internacionais indicam que os apoios que demos à economia e ao emprego se encontram entre os mais exíguos da Europa. Pior: mesmo os programas aprovados não foram cumpridos, acabamos de saber que o ministro das Finanças decidiu “poupar” em vez de ajudar a salvar um tecido empresarial em absoluto colapso.

Mas chega. A lista podia prosseguir, com as excepções e os maus exemplos, a desastrosa gestão dos transportes na Grande Lisboa, os surtos nos lares, os discursos contraditórios e a insuportável prosápia de um poder que não tolera a mínima crítica ou reparo mesmo quando tudo o que faz deve ser objecto de crítica severa.

O ponto a que chegámos não podia por isso ser mais penoso. O que vemos quando olhamos à volta é desolador.

De norte a sul já se percebeu que o bom português é o “chico esperto” que encontra forma de ludibriar as regras e levar a pica da vacina antes de chegar a sua vez. Um país enxameado de gente que só está onde está porque tem cartão partidário e que fez vida com muitos esquemas e a prestação de muitos “serviços”, naturalmente serviu-se como pôde e não achou isso estranho. “É só um caso cada mil”, diz o responsável pelo processo, Francisco Ramos, no seu tom sempre entre o sonso e o arrogante, o mesmo que até acha que esta “batota” só é imoral para os eleitores de André Ventura. O senhor, um apparatchik que serviu o PS em várias ocasiões – já foi secretário de Estado em cinco governos socialistas – tem feito e refeito o plano de vacinação e por isso é um dos responsáveis por Portugal estar entre os países mais atrasados da UE na primeira dose da vacina. Mesmo assim não se demite.

Aliás a ninguém parece pesar a consciência mesmo quando Portugal está há muitos dias no topo dos países com os piores números de mortes e infectados da Europa, nem quando os mortos se acumulam nos hospitais ao ponto de terem de ser construídas de emergência câmaras frigoríficas para guardar os corpos. O importante é que é essas imagens não apareçam nas televisões, isso sim é que é importante.

Face a este descalabro ainda dizem que estava tudo planeado e até que falar de falta de planeamento é “criminoso”. Que mais posso dizer? Foi já há vários meses que pedi a Marta Temido para deixar de fingir que “fomos exemplares”, que “fizemos o nosso melhor” ou que “o SNS estava preparado”, pois era tempo de deixar de viver na mentira. Como é óbvio não serviu de nada. Entrámos nessa ficção por Novembro adentro, depois por Dezembro adentro, já sabíamos da variante britânica quando deixámos as fronteiras abertas para o Natal enquanto outros as fechavam e depois, quando à nossa frente já se avistava o tsunami, o nosso primeiro-ministro, fleumaticamente, anunciava que tínhamos de esperar pela “reunião do Infarmed”, e a seguir à “reunião do Infarmed” anunciava que não havia consenso entre os especialistas sobre fechar ou não fechar as escolas.

Pois, falo mesmo do nosso primeiro ministro. Do “hábil” António Costa, agora o desnorteado António Costa. Cada semana que passa torna mais evidente que não é homem para as horas complicadas em que é preciso tomas decisões difíceis e impopulares. E rápidas. Entre duas opiniões contraditórias, hesita e adia, negoceia, procura o consenso, tira a bissetriz, sem entender que as meias-tintas raramente são a boa solução.

Rodeado por uma equipa ministerial de pesos-pluma, quase não tem em quem confiar. Mas também não é capaz de cortar a direito e remodelar um governo que não está à altura das circunstâncias — faz retoques na pintura promovendo gente dos gabinetes sem experiência de vida. Tudo em circuito fechado.

Como é possível manter ainda em funções o ministro da Educação depois de dizer que ele não disse o que ele tinha dito, e o próprio se ter vindo desdizer? Como é possível segurar a ministra da Solidariedade Social depois da hecatombe que tem acontecido nos lares e depois de tudo o que continua a não funcionar nos apoios sociais? Será que ainda não reparou que o pronto-socorro do ministro da Economia não chega para tudo? E que dizer da ministra da Justiça, irremediavelmente comprometida depois do caso do procurador europeu, mas que é apenas mais um caso a manchar um mandato onde a única preocupação parece ser assegurar que, da área da Justiça, não virão mais surpresas desagradáveis para os socialistas e os poderosos?

Isto sem esquecer, claro, o velho companheiro Eduardo Cabrita, amigo fiel de muitos anos, agora na Administração Interna e que pode ser um bom cão-de-fila para umas arengas parlamentares, mas que desde o caso Ihor Homeniuk perdeu autoridade para o que quer que seja. Sobra-lhe no tom da voz o que lhe falta da substância da razão, e isso é poucochinho.

Imagino que olhando de Belém para este cataclismo Marcelo comece a estar assustado. A verdade é que se comprometeu demasiado com o Governo, assumiu-se como parte nas decisões sobre a gestão da pandemia, imaginamos que terá evitado alguns erros, vimos como tento apagar alguns fogos, testemunhámos como foi parceiro em boa parte dos equívocos, dos erros de cálculo e na mistificação pública. Gostei por isso de vê-lo “muito irritado” quando não conseguiu que a DGS lhe desse uma instrução por escrito sobre o que devia fazer quando testou positivo e logo a seguir negativo – finalmente descia ao mundo do comum dos mortais que têm de viver no meio da confusão que é lidar com as informações contraditórias que se recebem dos serviços de saúde.

Só que Marcelo tem de decidir-se. A pandemia é a catástrofe que ninguém previu, mas a degradação das instituições e dos costumes já vinha de trás e o Presidente fora cúmplice nesse processo degenerativo, uma cedência aqui, um cálculo de oportunidade acolá, mas cúmplice sem margem para dúvidas.

Agora, forte com os 60% da sua reeleição, tem força para correr riscos políticos, tem força para tentar despertar os portugueses, tem força para em vez de perseguir ainda mais selfies, colocar o dedo nas feridas e abalar consciências. É o mínimo.

É que convém não ter ilusões. Talvez o número de infectados e de mortes comece a diminuir mais depressa do que preveem os modeladores, que de resto se enganam sempre, mas quando isso acontecer o que ficará para trás é um campo de ruínas. Na saúde e na economia. E quem continuará em São Bento é esta equipa de zombies arrogantes e claramente incompetentes que até é capaz de vir reclamar os louros por ter “vencido a pandemia”. Isto enquanto, com a mesma sofreguidão com que se lançou às vacinas, a turba multa prepara as garras para agarrar a bazuca.

Porque escrevo isto? Porque pelo que temos visto o crime compensa. Tem compensado, está à vista de todos, descaradamente.

Prof. Marcelo: por uma vez na vida, vai fazer alguma coisa para que deixe de compensar?

Portugal Socialista, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/722526/portugal-socialista

Não nos enganem mais, a situação é mesmo dramática, in OBSERVADOR https://observador.pt/programas/contra-corrente/nao-nos-enganem-mais-a-situacao-e-mesmo-dramatica/

A República a votos, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/721890/a-rep-blica-a-votos

O desmoronamento em curso 

A falta de previsão tem sido a imagem de marca do PS desde que tomou o poder graças ao golpe parlamentar de 2015. Chega sempre tarde e não deixa esperanças para o dia da eleição presidencial.

No dia em que o Governo decidiu permitir que os eleitores votassem antecipadamente, no domingo anterior ao das eleições presidenciais de 24 de Janeiro, não previu que haveria uma pequena multidão de cerca de 250 mil votantes antecipados em todo o país. Em Lisboa eram umas escassas dezenas de milhar de votantes, mas ainda estavam a “fazer bicha” à hora de as urnas encerrarem! Comprova-se, assim, que a falta de previsão tem sido, manifestamente, a imagem de marca do PS desde que tomou o poder graças ao golpe parlamentar de 2015. Chega sempre tarde e não deixa esperanças para o dia da eleição presidencial.

Antes mesmo da pandemia, o improviso, a falta de competência e a manipulação dos meios de comunicação já tinham caracterizado o comportamento do Governo perante os incêndios florestais de 2017 e repetiram-se durante a tragicomédia de Tancos, que se prolonga até hoje, assim como o caso Sócrates, sempre de modo a iludir as pessoas e a sacudir as responsabilidades do Governo com a protecção do PR. E assim sucessivamente perante casos com a dimensão do chamado “Novo Banco” e agora a TAP, ambos a financiar pelos contribuintes, como tantos outros buracos, até que a falta de rigor e de previsão económico-financeira desembocou de novo no aumento da dívida externa.

Perante o agravamento da pandemia para valores impensáveis, é manifesta a desorientação do Governo e dos seus aliados no Parlamento e na Presidência da República. Estes continuam a refugiar-se atrás da “bazuca” da UE, da qual já se fala há tempos, mas que, aparentemente, não virá tão cedo. O mesmo se diga das vacinas, que em breve viriam resolver de vez o assunto e chegaram a ser saudadas como o “fim da pandemia”, mas afinal escasseiam de tal modo que, desde o Natal até agora, a vacinação ficou-se por uma centena de milhar, correspondente a menos de 1% da população e a quem ainda será necessário administrar a segunda dose!

Entretanto, a pressão sobre os hospitais e os profissionais de saúde não cessa de aumentar, atingindo, neste momento, mais de cinco mil internamentos, dos quais 664 em cuidados intensivos. Este afluxo contínuo de novos casos, já classificado como o mais grave do mundo, está não só a paralisar o normal atendimento aos outros doentes graves como, segundo as últimas notícias, também já está a obrigar os profissionais de saúde a escolher quem salvar entre os internados em cuidados intensivos. A organização e o financiamento do SNS já há bastante tempo que funcionavam mal e, neste momento, foram ultrapassados pelos acontecimentos com os riscos que isso comporta para muitos dos doentes actuais e para o estado de saúde futuro da população.

Por fim, têm vindo a multiplicar-se, sem cessar, essas instituições de resposta ao envelhecimento cada vez mais acentuado da população, onde estão alojadas para cima de 300 mil pessoas – os chamados “lares de idosos”. Não é que isso não fosse já conhecido, mas agora, com a pandemia, as incapacidades técnicas e humanas dessas Instituições Privadas de Solidariedade Social geridas pelas Misericórdias tornaram-se evidentes apesar do financiamento estatal, sem falar do grande número de lares clandestinos tolerados pela Segurança Social. É nesses estabelecimentos que morre metade, ou mais, das vítimas da Covid-19!

O agravamento notório da pandemia, em simultâneo com a campanha eleitoral para a Presidência da República e o início da presidência do Conselho da UE, sinalizam o início do desmoronamento dessa pseudo-solução governamental iniciada pelo PS após as legislativas de 2015 – a tal “geringonça” –, que entretanto deixou manifestamente de funcionar como antes. Costa bem quis ter a maioria absoluta em 2019, mas, apesar da actual distorção eleitoral, não conseguiu e não encontrou substituição.

O PS perdeu-se entre a inútil confecção do Orçamento e a irrupção da pandemia. Não só gasta dinheiro e aumenta o défice, como afectou as uniões partidárias, como se viu nos Açores, onde a tentativa de reconstituir uma “geringonça local” sob o domínio do PS não funcionou na Região Autónoma. O soçobrar parlamentar do PSD e a virtual desaparição do CDS no Continente apenas indiciam mais dificuldades para o pequeno mundo dos partidos políticos, conforme se tem visto durante a campanha presidencial…

Independentemente do que acontecer em Belém, a perda simultânea de popularidade do PR e do PM impedi-los-á de se apoiarem um ao outro. Entretanto, a continuação da pandemia e o atraso da recuperação económica irão prolongar a recessão e desapontar a população em Portugal ainda mais do que no resto da Europa. A agonia política do PS deve-se não só à iminente catástrofe sanitária, mas também à debilidade económica do país. Esta, por sua vez, deriva da baixa produtividade resultante do estatismo, do corporativismo e, por fim, da pretensa “ideologia de esquerda” insuflada pelo PS, desde a burocracia à escola e à comunicação social!

O único homem com liberdade em Portugal

Acho bem que Mamadou Ba seja um homem com liberdade para citar Fanon. O que também acho, no entanto, é que Mamadou Ba não pode continuar a ser o único homem com liberdade em Portugal.

27 nov 2020, 00:268, in O Observador

Sempre tive curiosidade de conhecer um homem totalmente livre. Livre, não como é costume usar essa expressão hoje em dia, no sentido de uma pessoa independente, mas livre no sentido de isento de quaisquer constrangimentos, legais ou morais, na expressão das suas ideias e sentimentos. Um homem, enfim, com toda a liberdade para dizer o que lhe apetecer, sem recear consequências. Esta semana, encontrei esse homem. É Mamadou Ba, um antigo cidadão senegalês, agora com documentos portugueses. Percebi também porque é que disfruta de tanta liberdade. Esta semana, Mamadou disse que era preciso “matar o homem branco”. Apelo ao assassinato? Discurso de ódio, pelo menos? Não, nada disso. Uma multidão de voluntários precipitou-se logo a rodear o homem com uma defesa intransponível de muralhas, fossos e campos minados. Fomos, como nos competia, sujeitos às devidas lições: tratava-se de uma citação; tratava-se, acima de tudo, de uma metáfora. Citações e sobretudo metáforas não têm mal nenhum, a não ser na torva cabeça da “direita incivilizada”, de que felizmente o regime já obteve a lista com os nomes todos.

Não sei que mais admirar nos desculpadores de Mamadou, se a ignorância, se a má fé. Falemos da ignorância. Mamadou citava Frantz Fanon? Mas as palavras de Fanon nem no prefácio de Sartre a Os Danados da Terra tinham um sentido meramente simbólico. Fanon foi um amigo e influência de Holden Roberto, o líder da União dos Povos de Angola, que deve ter ouvido as opiniões de Fanon antes de este as expor em livro. Em 1961, seguindo as lições do seu mestre, Roberto decidiu iniciar a campanha para a independência de Angola matando os colonos brancos. Matando metaforicamente? Não, matando literalmente. À catanada. Em Angola, entre Março e Maio de 1961, aconteceu o maior massacre de população de origem europeia alguma vez cometido em África. Ao lado de cerca de 1000 brancos, caíram também, sob as catanas dos discípulos de Fanon, milhares de negros de etnias que, no norte de Angola, eram etnias erradas. Homens, mulheres e crianças – decapitados, mutilados, esventrados. Holden Roberto, o discípulo de Fanon, o amigo de Fanon, não percebeu o que Fanon lhe dizia? Não sabia o que era uma metáfora?

A metáfora já foi a desculpa de Julius Streicher, o maior propagandista do anti-semitismo na Alemanha nazi, durante o julgamento de Nuremberga. Entre 1923 e 1945, no seu jornal Der Sturmer, Streicher incitou incansavelmente à morte dos judeus, ao seu extermínio, ao seu desaparecimento. Mas em Nuremberga, em 1945, perante o Tribunal Militar Internacional, argumentou que tudo aquilo era linguagem simbólica, que de facto nunca concebera a morte literal dos judeus, mas apenas a sua emigração para um simpático Estado judaico, a criar algures num recanto agradável do mundo. Streicher não matara ninguém pessoalmente. Nem sequer estivera implicado na máquina do extermínio dirigida por Himmler, Heydrich e Eichmann. Mas o Tribunal de Nuremberga não considerou que as metáforas de Streicher tivessem sido inocentes: percebeu que, sem o ambiente criado por demagogos como Streicher, o extermínio das comunidades judaicas da Europa não teria sido possível. Os grandes crimes políticos requerem este estádio prévio da metáfora para serem executados, porque é nessa fase metafórica que as futuras vítimas são desumanizadas, transformadas em criminosos ou em simples peças de um sistema odiado, e portanto susceptíveis de serem eliminadas sem escrúpulos, em nome da defesa da comunidade ou do triunfo da justiça. O anti-semitismo nazi não tem comparação na sua enormidade. Mas o anti-colonialismo à moda de Fanon tem, com esse movimento de ódio, uma certa sintonia, neste sentido muito preciso: graças às metáforas de Streicher e de Fanon, aqueles que geriram as câmaras de gás ou que empunharam a catana não viram naquela mulher e naquela criança, sozinhas e indefesas, o que elas eram — apenas uma mulher e uma criança –, mas, porque eram judias ou brancas, simples espécimes de raças inimigas e sem direitos, e que era politicamente necessário e legítimo assassinar. Em Angola, em 1961, foi assim: 1000 portugueses – homens, mulheres e crianças – cortados à catana como colonos que mereciam morrer para o colonialismo acabar. A metáfora de Fanon, para eles, teve esse sentido sangrento.

Fanon concebeu a chamada relação colonial como uma simples relação de violência do colonizador sobre o colonizado. Justificou assim todas as violências dos colonizados sobre os colonizadores. No entanto, Fanon é ensinado acriticamente em cursos de ciências sociais das nossas universidades, com os seus incitamentos ao homicídio branqueados como metáforas inocentes. E ai de quem, como esta semana fez André Azevedo Alves, duvide dessas inocências. Foi imediatamente cercado pelos tambores de ódio da esquerda radical, toda muito convenientemente versada em leituras simbólicas de Fanon.

E a propósito, eis uma das razões pelas quais em Portugal só há extremismos à direita. De facto, como gracejou Pessoa, tudo é símbolo, tudo se pode interpretar como metáfora. Mas nem sempre com a mesma complacência. Mamadou Ba pretende “matar o homem branco”? Na realidade, deseja apenas reformar pacificamente um “sistema racista”. Mas eis um político da direita com um plano para reformar a Segurança Social. Também o que ele diz será interpretado como metáfora, mas neste sentido: na verdade, o que ele quer é privar violentamente os pobres de qualquer rendimento, e portanto exterminá-los. O Mamadou Ba que anseia por “matar o homem branco” é um cavalheiro culto e gentil que cita Fanon; o político de direita que pretende reformar a Segurança Social é um assassino bárbaro que conspira para assassinar os pobres. Tudo em nome das metáforas.

Ninguém tem o direito de esperar que a esquerda deixe de fazer isto. É o que lhe convém: inocentar os seus, e demonizar os outros. O que compete a uma direita democrática não é queixar-se e exigir à esquerda que abandone os seus critérios duplos: é não se deixar impressionar, pois se esses critérios funcionam, é apenas porque uma parte da própria direita, por medo ou conveniência, os adopta para distinguir, entre os seus, aqueles que têm direito ao título de “democratas” e os outros, que podem ser tratados como “fascistas”. A força do esquerdismo não vem da esquerda, mas da cobardia e do oportunismo da direita. E não, isto não é uma questão tribal, de equilíbrio entre clubes. É uma questão de pluralismo e de liberdade, porque liberdade e pluralismo não existem onde o debate está tão enviesado. Nunca chamarei a polícia, como é hábito fazer à esquerda, por causa do que alguém disser. Acho bem que Mamadou Ba seja um homem com liberdade para citar Fanon ou o que lhe apetecer. O que também acho, no entanto, é que Mamadou Ba não pode continuar a ser o único homem com liberdade em Portugal.

A retoma em K, in https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/a-retoma-em-k-653485

Até que a morte nos pare, in https://www.jn.pt/opiniao/pedro-ivo-carvalho/ate-que-a-morte-nos-pare-12962402.html

Antes e Depois ( As perigosas comparações) in https://sol.sapo.pt/artigo/713043/antes-e-depois-as-perigosas-comparacoes-

Ditadura Democrática, in https://sol.sapo.pt/artigo/712653/ditadura-democratica

A traição de Marcelo, in https://sol.sapo.pt/artigo/711911/a-traicao-de-marcelo

Ao estado a que isto chegou, in https://sol.sapo.pt/artigo/709427/ao-estado-a-que-isto-chegou

Ele não pára de surpreender…sempre pela negativa!, in https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/ele-nao-para-de-surpreender-sempre-pela-negativa-637784

Portugal país violento?, in https://ionline.sapo.pt/artigo/708899/-portugal-pais-violento?seccao=Opiniao_i

A necessidade da candidatura presidencial de Ana Gomes 

Tudo somado, temos dois candidatos. Uma candidata cosmopolita, corajosa e com um percurso de vida cujas consequências são visíveis no mundo. Temos outro candidato que nunca saiu do eixo Lapa-Cascais.

Findo o Verão, apesar de todas as incertezas desenhadas na linha do horizonte, as presidenciais de Janeiro de 2021 começam a mexer. No meio da disrupção da nossa vida colectiva trazida pelo vírus, agudizados por uma classe política ensimesmada – principalmente quando brinca às “crises políticas” –, momentos como as eleições são importantes faróis de normalidade numa sociedade em convulsão. Apesar de tudo, as regras do jogo continuam a funcionar. Seremos novamente chamados a eleger o Presidente da República dentro de uns meses.

Ana Gomes apresenta amanhã a sua candidatura à Presidência da República. Creio que é de louvar o esforço cívico e político que Ana Gomes faz ao prestar novamente um serviço ao seu país, num momento difícil em que corríamos o risco de ter uma corrida eleitoral disputada por dois populistas, Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura.

Ana Gomes é tudo aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa, o vencedor pré-anunciado, não é. Isto, claro, para quem tem a felicidade de ver o país para além do ângulo debitado pelo Expresso. Em primeiro lugar, é uma cosmopolita, com vasta experiência internacional, acumulada em cargos diplomáticos em Londres e Tóquio e, durante mais de quinze anos, enquanto deputada ao Parlamento Europeu em Bruxelas. Durante esse tempo, o Professor Marcelo espalhava o seu “génio” entre Cascais, a Faculdade de Direito, o comentário político na TSF – no qual dava notas aos políticos — e, mais tarde, a TVI.

Em segundo lugar, Ana Gomes é uma mulher corajosa e com espinha vertebral. Tem um conjunto de princípios de que não abdica, nomeadamente, a lisura na coisa pública e o combate à corrupção. Quem não se lembra quando Ana Gomes chamou ladra a Isabel dos Santos em directo na SIC Notícias, dizendo, de resto, aquilo que o senso comum de qualquer português medianamente informado sabe? Ou, por exemplo, o facto de ter sido a única militante no Congresso do PS, em 2018, que assumiu a necessidade de o partido reconhecer os erros do passado? Não concordo com todas as posições de Ana Gomes, nomeadamente em matéria europeia. No entanto, gabo-lhe a coragem de enunciar as suas posições publicamente e com clareza. Alguém conhece as posições de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o que quer que seja? Apesar de ser uma presença mediática há décadas, o “Professor”, persona pública criada no seio da mais fina elite mas que consegue o milagre de fazer o povo acreditar que é um dos seus, não tem coragem para afirmar as suas posições sobre nada. É um caso clássico do dictum atribuído a Groucho Marx: estas são as minhas posições, se não gostarem tenho outras.

Em terceiro lugar, Ana Gomes chega a esta corrida presidencial com feitos na vida pública dos quais se pode orgulhar. Naturalmente, o feito maior foi o seu trabalho incansável enquanto embaixadora de Portugal em Jacarta durante a luta de Timor Leste pela sua independência. Creio que não é um feito menor ter ajudado um país a libertar-se do jugo de um ocupante que, há décadas, o oprimia, tornando-se independente. Pelas minhas contas, os feitos públicos de Marcelo Rebelo de Sousa até ser eleito Presidente resumem-se a uma mão cheia de nada, para além de um conjunto de histórias (ou estórias?) de anedotário. Mergulhou no Tejo e conduziu táxis, numa antecipação do estilo popularucho pelo qual viria a ser conhecido décadas mais tarde, mas perdeu a corrida à Câmara de Lisboa. Foi líder do PSD e da oposição durante o consulado guterrista, conseguindo bloquear a despenalização do aborto com um referendo inventado à última hora. Todavia, não chegou sequer a disputar as eleições legislativas de 1999. Numa palavra, em todos os momentos maiores, falhou.

Tudo somado, temos dois candidatos. Uma candidata cosmopolita, corajosa e com um percurso de vida cujas consequências são visíveis no mundo. Temos outro candidato que nunca saiu do eixo Lapa-Cascais, apesar de toda a mise-en-scène sobre Celorico (uma delícia), com pouca coragem, e cujos feitos na vida pública antes de ser eleito Presidente se resumem a ter sido deputado à Constituinte e ministro (durante um ano) no tempo de Balsemão.

Poder-se-ia dizer que Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um bom Presidente e que merece ser reconduzido na Presidência. À excepção do momento Pedrógão, no qual se elevou à dignidade do cargo, a sua presidência é simplesmente triste. Isto, claro, se pensarmos que ser Presidente da República é mais do que ser mirone num incidente com um elétrico da Carris, tirar selfies com metade do país qual cantor de música ligeira, fazer comentário sobre assuntos políticos em tronco nu na praia recorrentemente, ou até ir à pré-inauguração de uma Padaria Portuguesa.

Naturalmente, dado o perfil dos dois candidatos, é óbvio qual a preferência do Dr. Costa. Para além de partilharem o mesmo millieu lisboeta, Costa e Marcelo partilham as mesmas características: paroquiais, pouco arrojados, e com feitos curtos na vida. Isto assumindo, claro, que a vida é algo mais do que as sinecuras arranjadas via partido político ou de ligações familiares. Acima de tudo, Costa e Marcelo querem fazer tudo para manter o status quo político, económico e social, que nos trouxe a uma estagnação económica nos últimos vinte anos. Se não fosse por mais nada, quebrar o status quo é o motivo pelo qual acho a candidatura de Ana Gomes imprescindível. Se assim não for, corremos o risco de, dentro de uns anos, vermos o sistema ser quebrado por pessoas e partidos muito pouco recomendáveis.

Por Jorge Fernandes, in Observador

Sócrates sonhou e Costa realizou

António Costa tem vindo a realizar quase todos os sonhos de José Sócrates. Afinal, as suas linhas programática e de ação são idênticas. Não são gémeos siameses, mas…

José Sócrates teve vários sonhos. Alguns com objetivos bastante positivos, como o plano tecnológico e o investimento na banda larga, o Simplex ou a aposta nas energias renováveis (sem olhar aos custos). Outros sonhos, viraram pesadelos para os portugueses com custos dantescos para o país: obras megalómanas em período de crise como o TGV ou o reforço do recurso a Parcerias Público-Privadas para construir autoestradas com contratos ruinosos para as futuras gerações, a Festa da Parque Escolar ou ainda as rendas excessivas do sector elétrico. Além destas duas realidades há uma terceira, à partida mais imaterial, com reflexos muito negativos na economia, mas sobretudo na sociedade e na independência das instituições, dos reguladores, mas também de alguns pilares da nossa democracia. É precisamente nesta terceira categoria que António Costa conseguiu aquilo que Sócrates, felizmente, não conseguiu realizar.

Sócrates sonhou controlar a imprensa, foi acusado de atentar contra o Estado de Direito, conseguiu remover vozes incómodas de algumas televisões, interferiu na aquisição de grupos de comunicação social e noutros, como foi o caso da TVI, tentou por tudo garantir a sua aquisição por gente amiga.

Sócrates tentou “controlar a democracia”, António Costa conseguiu.

A imprensa irritava Sócrates, o animal feroz não podia ser incomodado. António Costa também se irrita mas disfarça melhor, apenas o faz em off.

António Costa, com um discurso alegadamente assente numa visão progressista e de grande respeito pela pluralidade e valores de Abril, já ultrapassado o Estado de Emergência mantém o condicionamento das conferências de imprensa do Conselho de Ministros, da DGS e até dos ministros. Ora escolhem os jornalistas para algumas conferências de imprensa, ora limitam o número de perguntas e de pessoas com acesso. No Governo do simplex parece impossível que não exista um meio de transmissão online que permita o acesso a mais gente. E quase tudo fica caladinho sem direito a indignação.

Se Sócrates teve a fama e o proveito de querer interferir na economia privada e nas decisões das grandes empresas, pagando ele e o país uma grande fatura por isso, António Costa já o conseguiu. Os seus bons amigos participam ativamente em algumas decisões estratégicas dando conforto ao Governo. Foi assim com a TAP, com os lesados do BES, agora com TVI e provavelmente em tantas outras ocasiões que o público em geral desconhece. Os custos da reversão mentirosa do capital da TAP feita por Costa, Pedro Marques e Lacerda Machado ficaram bem visíveis muito recentemente durante o processo que levou à injeção de cerca de mil milhões de euros por parte do Estado e dos contribuintes.

A “liberdade” de António Costa em matérias que dizem respeito ao regular funcionamento das instituições é gritante e descarada, atente-se por exemplo, o luxo de ter como representante de Portugal no Conselho Europeu um conhecido lobista, Vitor Escária, o ex-mega assessor de Sócrates, sem qualquer contrato com o Estado, como já tinha feito com Lacerda Machado. É tudo à vontadinha, sem transparência e como novos donos disto tudo.

Se durante o governo PSD/CDS se assistiu a uma desgovernamentalização das empresas, hoje fica claro que quem quer fazer alguma coisa em Portugal tem que voltar a ter o apoio político do Governo, a simpatia do primeiro-ministro e um alinhamento com as narrativas do seu Governo. Quem não vai ao beija-mão está tramado.

Ao olharmos para as restantes instituições vimos as diversas tentativas de limitação da ação da daquelas que deviam ser independentes. Recordemos as críticas e ameaças ao Tribunal de Contas, as tentativas de alterar as funções do Banco de Portugal reforçando o controlo do Governo, regras essas que não foram alteradas, mas que com a nomeação de Centeno o objetivo fica salvaguardado, ou o estrangulamento dos Reguladores Independentes cujas receitas próprias foram cativadas pelo Governo limitando assim a sua ação e sua autonomia. Se estes também foram sonhos algo frustrados de Sócrates e que Costa procurou concretizar, também ao nível das Ordens Profissionais a tentação é recorrente. Foi há dois anos com a perseguição à Ordem dos Enfermeiros e é agora a constante afronta aos Médicos e à sua Ordem sempre que perturbam a narrativa oficial do Governo socialista. A liberdade e autonomia das instituições está muito limitada.

Os partidos de extrema-esquerda, de Abril, fingem ser oposição e tais guardiões da liberdade e da democracia, mas fazem apenas uma oposição formal. Sempre que for preciso lá estarão a apoiar, a calar e a consentir.

Nem Sócrates acreditava ser possível chegar tão longe. Sócrates sonha, Costa realiza e os portugueses safam-se? A claustrofobia democrática, como um dia de lhe chamou Paulo Rangel, está de volta, mas desta vez em “pezinhos de lã”.

Por Duarte Marques, in Expresso

https://expresso.pt/blogues/blogue_sem_cerimonia/2020-09-08-Socrates-sonhou-e-Costa-realizou

Os intolerantes do Governo, in https://sol.sapo.pt/artigo/706711/os-intolerantes-do-regime

O Governo e os drones que nunca mais voam, in https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/o-governo-e-os-drones-que-nunca-mais-voam-624011

E depois do Lay-off?, in https://expresso.pt/blogues/bloguet_economia/blogue_econ_diogo_agostinho/2020-08-03-E-depois-do-lay-off-

O Regresso da Censura, in https://sol.sapo.pt/artigo/704325/o-regresso-da-censura

Somos tão estúpidos, in https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/somos-tao-estupidos-afinal-e-facil-616676

O povo merece a arrogância do PS

O interessante é perceber que o dr. Costa manda no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que andamos a reboque de uma quadrilha com planos de dominação absoluta.

Este ano, por razões que não vêm ao caso, tenho passado boa parte do meu tempo numa cidade portuguesa que não aquela em que nasci, cresci, vivi e, parcialmente, ainda vivo. A minha cidade sempre foi socialista, ou seja, lá os residentes votam no PS para a autarquia e para o Parlamento. O PS distribui empregos, habitações “sociais” e demais benesses. O PS influencia os negócios particulares, os quais, se valerem a pena, não acontecem à revelia dos caciques locais. O PS é a rede inevitável a que vão parar as ambições, as ilusões e as esperanças de promoção social. Etc. É assim há 45 anos.

Na outra cidade de que falo não era assim. Vista ao longe, como eu a via, a cidade não parecia coutada de um partido. Além de um triunfo do CDS, o PSD vencia a maioria das eleições, o PS ganhava as restantes. Hoje, que estou aqui com frequência, descubro dia após dia que o PS controla a câmara, as freguesias, as escolas, as associações, as obras, as igrejas, o comércio, os semáforos, a “cultura”, a horticultura e por aí fora. Não é comigo. Graças a Deus, e a bem da higiene, o meu contacto com essa realidade limita-se aos testemunhos, indignados ou resignados, de interpostas pessoas. Através destas, vou conhecendo a existência de criaturinhas medonhas, sem escrúpulos nem letras nem vergonha, movidas exclusivamente pela ânsia de agradar ao partido e, no processo, realizar sonhos ridículos. É um universo repulsivo, repleto de boçalidade e prepotência, de ignorância e desonestidade, de vénias e humilhações. E se é um universo pequenino, não acho excessivo imaginar que constitui amostra razoável do país. Um país onde o PS está próximo de tomar conta de tudo.

Exemplos são inúmeros. Dou um. Esta semana, acabaram as reuniões periódicas no Infarmed. Porquê? Porque o dr. Costa, que na penúltima reunião se viu desautorizado pelos factos, o decidiu. Na altura, enxovalhou a ministra da Saúde (que agradeceu e merece o enxovalho) e bateu com a porta. Agora, terminou sumária e arbitrariamente com uma fonte perturbadora da propaganda acerca da Covid.

Não vale a pena comentar o carácter e a educação do dr. Costa, ambos nulos. O interessante é notar o puro despotismo. O interessante é perceber que o dr. Costa manda no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que andamos a reboque de uma quadrilha com planos, em acelerado curso, de dominação absoluta. Quase sem oposição partidária, contraponto institucional, escrutínio jornalístico e a um passo de abolir qualquer dissensão pública, o dr. Costa e seus comparsas subjugaram-nos aos respectivos desígnios. É a concretização da política do quero, posso e mando, o chavão do PCP que os comunistas deixaram de usar a partir do momento em que se juntaram ao assalto. Escuso de referir a corrupção, o compadrio e os defeitos endémicos que hoje se exibem à luz do dia. Quando o autarca de uma capital resolve pintar o chão de cores bonitas e não é imediatamente internado, isto já não se assemelha em nada a uma democracia. As ditaduras começam pela trafulhice, evoluem com a arrogância e consagram-se na demência.

Com os subornos certos aos pelintras certos, nos partidos, nos “media” e no que calha, é claríssimo que o PS conquistou, no sentido bélico, os portugueses. A culpa é do PS? Lamento, mas a culpa é dos portugueses. Por muito que apreciassem o método, os socialistas não apontam uma pistola a ninguém para obrigar a apoiá-los nas sondagens, a tolerar asfixias fiscais, a aplaudir planeamentos leninistas, a subscrever a censura das opiniões, a rir “com” e não “de” palhaços, a respeitar as ordens de “autoridades” meramente grotescas, a admitir a transformação da vida em comum no quintal de um bando de matarruanos. O poder ilimitado do PS advém da ilimitada propensão dos portugueses para a submissão. E quanto maior o poder, maior a submissão, que é voluntária e não é particularmente incómoda. É preciso imaginar os portugueses felizes, ou no mínimo contentinhos.

Recentemente, perguntaram-me se eu via maneira de a “situação” mudar. Respondi que sim: a miséria. A descida do país a uma miséria tão avassaladora que subverta os fundamentos do que somos e nos atire para o desespero sem regras. Acrescentei que, não sendo um cenário improvável, não é um cenário desejável – mesmo que para varrer com o PS. A alternativa, enquanto houver dinheiro alemão para distribuir e impostos para pilhar, é o domínio do PS perpetuar-se. E crescer. Convém não ignorar o efeito avalanche: à medida que a bola de neve engorda, mais neve se junta ao todo. Os portugueses, dependentes e infantis, são os flocos de neve desta história, ávidos por se associarem aos que estão por cima – por cima deles, evidentemente. Está-nos na pele, e sai-nos do lombo.

Entre o totalitarismo e o caos, o destino pátrio é incerto e não se recomenda. A única certeza é a de que a democracia tem os dias contados. Era humilde, esfarrapada, coxa e burlesca, coitadinha. Mas era a nossa democracia, de qualquer modo preferível a três quartos dos regimes em vigor na Terra. O que virá, e está a instalar-se a cada momento, será bastante pior. Uma série deliberada e fortuita de circunstâncias favoreceu o casamento perfeito da vocação dos socialistas para sentirem donos da ralé com a vocação da ralé em servir. Uns 85% das intenções de voto vão para o PS e para as forças “colaboracionistas”. É pena que nas próximas “legislativas”, doravante um ritual dispensável, o PS sozinho não atinja essa marca: ao menos expunha-se a farsa. Entretanto, o PS vai estrangular-nos até ao último cêntimo, e pisar-nos até ao último assomo de humanidade. O PS não possui consideração nenhuma pelos portugueses que, por acção ou omissão, legitimam o PS. Eu também não.

Ignorar erros e procurar bodes expiatórios e cobardia, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/702213/ignorar-erros-e-procurar-bodes-expiatorios-e-cobardia

Os cobardes do regime, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/702361/os-cobardes-do-regime

Racismo como pretexto, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/701078/o-racismo-como-pretexto

Para salvar uma árvore

Éirónico: Marcelo, hipocondríaco, perdeu o controlo da narrativa hipocondríaca e securitária que nos apascenta. O Presidente e a sua marquise executiva, Antónia Costa, estão a ser criticados por terem sido demasiado audazes nos sinais de desconfinamento. Ora ainda bem que Marcelo deu esses sinais. Ele sabe algo que a narrativa do medo esquece desde o início: a quarentena pode destruir e matar mais do que o vírus.

O nosso problema não é o número de infetados. Esse campeonato, jogado ao nível europeu entre países, é irracional e, mais uma vez, anticientífico. Os virologistas como Pedro Simas não se cansam de dizer a mesma coisa desde o início: ter o vírus SARS CoV-2 não determina o desenvolvimento da doença covid-19; aliás, a esmagadora maioria não desenvolve. O nosso problema são os lares de idosos. Uma falha que partilhamos com todos os estados, desde Nova Iorque até à Suécia. O Ocidente mostrou-se incapaz de proteger os lares dos mais frágeis. É porventura a grande reflexão a fazer no pós-covid: é imoral continuarmos a arrumar a velhice em armazéns de seres humanos.

Por outro lado, o problema de “Lisboa” é, na verdade, o problema de Loures ou Amadora. Nada tem que ver com festas de jovens pós desconfinamento. Nestas regiões mais pobres, as pessoas nunca deixaram de trabalhar, nunca. As que não caíram no desemprego imediato continuaram a trabalhar. Sei do que falo. Morei a poucos metros do Hospital Beatriz Ângelo, o novo epicentro. A narrativa destas pessoas foi sempre o risco calculado do #sairdecasa. Como diz, e bem, o presidente da câmara de Loures, entre o preço instantâneo do confinamento (mais miséria, fome ou a humilhação de pedir comida) e o hipotético preço do vírus, estas pessoas escolheram e escolhem enfrentar o vírus. Uma pobreza ainda mais profunda é o seu inimigo. Para o burguês da cidade, o vírus é a sua primeira e única ameaça existencial. Para o pobre do subúrbio, o vírus é só mais uma ameaça. Percebem a diferença?

Julgo ainda que boa parte do fanatismo do #ficaremcasa vem de pessoas que não ainda não se deram ao trabalho de observar a destruição social que já está entre nós. Só para terem uma noção, deixo aqui um número divulgado pelo Banco Alimentar do Porto: recebia 30 a 40 pedidos de ajuda por ano, agora recebe 60 por dia. A pobreza mata de forma súbita e ao longo do tempo. A pobreza é o maior indutor de doenças físicas e mentais.

Um #ficaremcasa tão profundo e desproporcionado já é a causa de uma longa lista de destruição política (fim da sacralidade de Schengen; a destruição de partidos, olhe-se o PSD; ataques à liberdade; clima de delação na sociedade), de destruição social (desemprego como nunca se viu; fome até na classe média; a ruína do percurso escolar dos mais pobres), e até de destruição médica.

O que mais me incomoda na arrogância moral do medo e da hipocondria é a presunção de que o #ficaremcasa não causa mortes. Causa, sim. Causa tantos ou mais mortos do que a covid. Estou desconfiado que causa mais. O homicídio subiu em número e crueldade. Os problemas psiquiátricos dispararam (o suicídio é uma causa de morte superior ao homicídio). Há um excesso de mortalidade que só é explicável pela morte de outras doenças crónicas não atendidas. Estes mortos não contam? Para salvar uma árvore (o número de óbitos por covid), a sociedade atirou uma bomba de destruição massiva sobre toda a floresta; o radicalismo do #ficaremcasa é como uma quimioterapia antiga e desajeitada: mata por completo a vida à volta do foco da doença; destrói a doença matando a vida. Para quê? Só para entrarmos no patético campeonato da comparação covídica entre países? Mas a saúde e a vida só têm a covid-19 como lente de observação? Os outros problemas desapareceram por artes mágicas?

Os efeitos destruidores do #ficaremcasa demorarão anos e anos a serem reparados, e muitos nunca serão reparados, a começar nos milhões de pobres do terceiro mundo que já estão a morrer à fome por causa deste #ficaremcasa tão burguês e tão ocidental. Mas, claro, lá para o ano, os fanáticos do #ficaremcasa vão fazer outra campanha, um #liveaid, para ajudar os pobres do terceiro mundo. É assim o nosso mundo: de emoção primária em emoção primária.

in, jornal expresso, por Henrique Raposo

Ódio Racial, in Sol https://sol.sapo.pt/artigo/700333/odio-racial

Marcelo, Costa e Medina: três saloios entram num bar

O que se passou esta quarta-feira foi aberrante. Esteve ao nível da caricatura, aliás, esteve ao nível da anedota. Espero que os humoristas imortalizem este momento ridículo de Medina, Costa e Marcelo.

Há em Portugal uma fome só equiparável ao tempo em que os nossos pais eram pequenos, mas Presidente, primeiro-ministro e o alcaide de Lisboa abrem o telejornal para dizer que vem aí o circo. Sim, temos de nos rir para não chorarmos com o provincianismo de quem nos governa.

Estamos a viver uma crise sem precedentes e que não era inevitável. A crise era inevitável, esta escala era evitável se a sociedade e o Estado não tivessem entrado em pânico. E, curiosamente, ao contrário do que aconteceu durante a troika, o foco da narrativa ainda não está na crise económica. Mas vou dar-vos só um número: o Banco Alimentar do Porto recebia 30 a 40 pedidos individuais por ano; agora recebe 60 por dia. Fábricas como a Super Bock estão a despedir, lojas não estão a abrir, as exportações caíram a pique e, se os outros países também seguirem o #comprenacional, continuarão baixas. Mas, no meio desta crise tremenda, Marcelo, Medina e Costa abrem os telejornais para anunciar ao povo sem pão que vem aí o circo, que Lisboa vai acolher os jogos finais da Champions. “É o que os portugueses merecem”! Como assim?

A cena demonstra um provincianismo deslumbrado com qualquer migalha mediática dada pela “Europa”. Pior: é um provincianismo sem noção. Isto é um marketing político desesperado e desfocado em relação à crise económica e desfocado em relação às tais regras do covid: então uma festa de cem pessoas da rapaziada de Lagos é tratada como uma organização criminosa, mas um evento que atrairá inevitavelmente alguns milhares de visitantes já é bom? Qual é o critério? O critério do desconfinamento é a presença ou o gosto pessoal de Medina, Costa e Marcelo, os três defensores do alegado milagre português na luta contra a covid?

Mas qual milagre? Diabéticos amputados. Doentes oncológicos por tratar. Futuras doenças oncológicas por diagnosticar. Excesso de mortalidade não explicada pela covid. Aumento de 30% dos homicídios. Velhos abandonados. Suicídios. Senilidade galopante. Depressões. Ataques às liberdades. A mentalidade da fronteira fechada. A fome que não chega à escala neorrealista por causa do Banco Alimentar. A destruição de uma geração de alunos pobres. É este o “milagre português” que Marcelo, Medina e Costa tentam esconder com este anúncio tão provinciano, o circo em Lisboa. Espero que a UEFA traga o pão. Por Henrique Raposo, in Expresso

A extrema esquerda saiu à rua, in Jornal i https://ionline.sapo.pt/artigo/699802/-a-extrema-esquerda-saiu-a-rua

Uma história de duas pessoas, in Sapo Opinião https://eco.sapo.pt/opiniao/uma-historia-de-duas-pessoas/

O Ronaldo que, afinal é o Nelinho, in Jornal Económico https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/o-ronaldo-que-afinal-e-o-nelinho-599612

Costa e os Ciganos, in Semanário SOL https://sol.sapo.pt/artigo/697311/costa-e-os-ciganos

Mais um motivo para nunca confiar em socialistas, in Observador https://observador.pt/programas/contra-corrente/mais-um-motivo-para-nunca-confiar-em-socialistas

Ideias feitas – façam de conta de que não se passou nada, in Observador https://observador.pt/programas/ideias-feitas/facam-de-conta-de-que-nao-se-passou-nada-2/

Outra encenação de António Costa, in Semanário Sol https://sol.sapo.pt/artigo/697102/outra-encenacao-de-antonio-costa

Avante para Fátima, in semanário SOL https://sol.sapo.pt/artigo/696346/avante-para-fatima

Os filhos da mãe e os filhos de Lenine, in SOL https://sol.sapo.pt/artigo/695352/os-filhos-da-mae-e-os-filhos-de-lenine

Uma imagem repugnante, in jornal CM https://www.cmjornal.pt/opiniao/detalhe/uma-imagem-repugnante?ref=HP_BlocoOpini%C3%A3o

O estado do sítio, in semanário Sol https://sol.sapo.pt/artigo/695070/o-estado-do-sitio-

Há boas notícias, in semanário Sol https://sol.sapo.pt/artigo/695096/ha-boas-noticias

EcoVid20 O caos na economia viral, in semanário Sol https://sol.sapo.pt/artigo/695120/ecovid20-o-caos-economico-viral-de-2020

Burocratas, in CM Jornal https://www.cmjornal.pt/opiniao/editoriais/detalhe/20200502-0038-burocratas?ref=HP_BlocoOpini%C3%A3o

Emergência e Calamidade, in CM Jornal https://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/miguel-alexandre-ganhao/detalhe/emergencia-e-calamidade?ref=HP_BlocoOpini%C3%A3o

A espada que ameaça a nossa cabeça, in Visão https://visao.sapo.pt/opiniao/ponto-de-vista/covidiario/2020-05-01-a-espada-que-ameaca-a-nossa-cabeca/

De calamidade em calamidade, https://observador.pt/opiniao/de-calamidade-em-calamidade/

Fretes na TAP custam 21 milhões, in CM Jornal https://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/miguel-alexandre-ganhao/detalhe/fretes-na-tap-custam-21-milhoes?ref=HP_BlocoOpini%C3%A3o

Cuspindo nas estatísticas, dois jornalistas, do ‘The New York Times’ e do ‘The Guardian’, inventaram um ‘milagre’ português na coronacrisis; Marcelo, com imprudência, e o governo, manhoso, pegaram na mentira para propaganda das suas capacidades de liderança. As estatísticas mundiais mostram Portugal a meio da tabela, mas os media não indicam por norma os números de infectados e de óbitos por milhão. ‘Milagre’, portanto.

O programa de desconfinamento é uma amálgama de medidas contraditórias entre si, ditada mais pelo interesse de retoma das actividades do que por razões sanitárias, e marcada por prepotência sem suporte legal (mas o Tribunal Constitucional, tão activo na crise anterior, está nesta em coma profundo). O governo, que previa contágio só fora das fronteiras, mandava abraçar velhinhos nos lares e achava as máscaras um disparate, carrega agora em medidas excessivas, não para salvar o povo, mas para salvar políticos, parafraseando Luciano Amaral no CM. Todavia, a SIC, órgão central do governo, considerou o longo discurso de Costa como o melhor desde que D. Afonso Henriques gritou “Por Santiago!” antes da batalha de Ourique. Como na cerimónia do 25 de Abril, o Estado criou excepção para as elites, desta vez para a cúria burocrática da CGTP, que, ao contrário de todos nós, os outros, teve autorização para manifestar-se no 1º de Maio em 23 cidades e para os seus burocratas atravessarem concelhos. Não foi o Dia do Trabalhador, mas o dia da CGTP e seus privilegiados: as manifestações envolveram ‘apenas quadros sindicais’.

O governo aproveita a crise em benefício próprio. O ‘Expresso’ diz que já nos metralhou com 83 entrevistas de ministros. A procissão vai no adro.

Costa não perde uma para se armar em Churchill, mas não consta que o primeiro-ministro inglês deixasse a direcção da guerra para falar cinco vezes por dia aos media.

O descontrolo proporcionado pela pandemia vai soltando os impulsos autoritários do PS. Esses afloramentos já existiam com frequência, em declarações de dirigentes como Costa, Pedro Nuno Santos ou A. Catarina Mendes. A confusão entre Estado, governo e partido aumenta, com a complacência de Marcelo e da oposição. Ontem, ” Proteção Civil sugeriu no Facebook que os portugueses ouvissem o primeiro-ministro através do canal do Grupo Parlamentar do PS”, informou o JN. O Instituto N. de Estatística mudou regras a meio do jogo e passou os novos desempregados a ‘inactivos’. Em mais um ‘milagre português’, o desemprego baixou na secretaria.

Entretanto, meio milhão recorre à caridade de banco alimentares, instituições privadas e concelhias para comer.

Estado Policial, in https://sol.sapo.pt/artigo/694968/estado-policial

https://observador.pt/opiniao/breves-factos-sobre-o-covid-19-no-contexto-internacional/

https://observador.pt/opiniao/abriles/

https://observador.pt/opiniao/as-vacas-socialistas-nunca-dormem/

https://observador.pt/opiniao/quem-brincou-com-quem/

https://observador.pt/opiniao/deixem-se-de-tretas-e-governem/

https://observador.pt/opiniao/o-fachadismo/

https://observador.pt/opiniao/racismo-dizem-eles-e-os-efectivamente-concordam/

https://observador.pt/opiniao/os-portugueses-raizosparta-e-os-aristozeros/

https://observador.pt/opiniao/o-processo-de-grunhificacao-em-curso/

https://observador.pt/opiniao/os-irrelevantes/

https://observador.pt/opiniao/rendas-pouco-acessiveis-a-custos-garantidamente-milionarios/

https://observador.pt/opiniao/o-que-nao-se-diz/

https://observador.pt/opiniao/afinal-para-que-e-que-se-fez-o-25-de-novembro/

https://observador.pt/opiniao/dicionario-portugues-progressivo/

https://observador.pt/opiniao/e-se-em-2015-cavaco-silva-nao-tivesse-dado-posse-a-antonio-costa/

https://observador.pt/opiniao/portugal-pais-slime/

https://observador.pt/opiniao/um-pais-as-vezes/

https://observador.pt/opiniao/o-azar-dos-habitantes-do-predio-coutinho/

https://observador.pt/opiniao/a-recuperacao-quando-nasce-e-para-todos/

https://observador.pt/opiniao/e-agora-agora-nada/

https://observador.pt/opiniao/dar-o-dito-por-nao-dito-2/

https://observador.pt/opiniao/25-de-abril-sempre-liberdade-nunca-mais/

https://sol.sapo.pt/artigo/694289/vergonha

https://sol.sapo.pt/artigo/692461/a-culpa-dos-chineses

https://sol.sapo.pt/artigo/691684/a-caminho-da-catastrofe

https://qoshe.com/jornal-sol/pedro-och-a/a-cobardia-de-marcelo/67545641

https://observador.pt/opiniao/a-austeridade-nao-vai-voltar-nunca-foi-embora/

https://observador.pt/opiniao/abril-uber-alles/

https://www.dn.pt/vida-e-futuro/quanto-maior-a-fome-pior-na-escola-em-portugal-mais-de-7-das-criancas-sente-fome-todos-os-dias-

A pandemia que o governo não deixa ver, in Observador https://observador.pt/opiniao/a-pandemia-que-o-governo-nao-deixa-ver/

Visão factual, in Observador https://observador.pt/opiniao/visao-factual-epidemiologica-portugal-e-um-dos-paises-mais-perigosos-do-mundo-na-covid-19/

Leave a Comment